A indústria de petróleo e gás teve pela primeira vez um lugar na mesa da COP 28 – 28ª Conferência de Mudanças Climáticas das Organizações das Nações Unidas (ONU), que aconteceu entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro de 2023, em Dubai. Foi o que afirmou Isabella Costa, gerente de Análises Técnicas do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP). Ela ressaltou a importância da indústria no processo de transição energética.
“A gente vê como importantíssima a participação do setor de óleo e gás brasileiro, por intermédio do IBP, nessa conversa. É muito importante termos esse espaço para explicar alguns pontos que podem ajudar nessa transição para se chegar a uma economia de baixo carbono nas próximas décadas. Nossa indústria tem algumas características, como gerenciar grandes projetos e ter expertise e capital para investir na transição energética, que outros setores não têm”, explicou.
Carlos Victal, gerente de Sustentabilidade do IBP, também destacou a participação brasileira nessa edição da COP, dizendo que o Brasil retoma seu protagonismo nas discussões sobre transição energética e redução das emissões.
“O Brasil retoma o seu papel de negociador, que sempre teve em todas as COPs. O país pavimentou bem o seu caminho para a COP 30, que será aqui e trará um desafio, tanto do ponto de vista de construção das pontes entre os países, quanto para que aqueles que têm um histórico de emissões maiores tenham também uma ambição maior de redução e possam olhar para os países que sofrem mais com fenômenos climáticos extremos. E a gente não pode deixar de destacar que a COP 28 firmou o Financiamento de Perdas e Danos, que foi tão difícil discutir na COP 27. Essa edição assinou finalmente esse fundo de financiamento, um avanço espetacular”.
Victal também afirmou que foi fundamental a passagem da COP pelo Oriente Médio e considerou importante países produtores de petróleo sediarem a conferência, como foi essa edição, nos Emirados Árabes, a próxima, que será no Azerbaijão, e a de 2030, que será no Brasil. “Foi fundamental a COP passar por esses países petroleiros, porque colocou o petróleo no centro da discussão, deu oportunidade para que o setor se manifestasse e mostrasse o que já vem fazendo para contribuir para a redução das emissões”.
Segundo Isabella, o Brasil já é um país com uma matriz elétrica majoritariamente renovável, o que minimiza o impacto das emissões a partir do setor energético. A executiva disse ainda que a indústria já investe muito em biocombustíveis, que é considerado um grande vetor para ajudar na descarbonização.
“O Brasil é o segundo maior produtor de biocombustíveis do mundo, o que nos coloca em uma posição favorável. Além disso, o petróleo do Brasil, em termos de atividades de produção, é um dos com menores níveis de emissões de CO2 no mundo. E a indústria também está sempre avançando em termos de segurança e de otimização dos seus processos”.
Carlos Victal afirmou que a COP 28 trouxe avanços importantes e consolidou uma nova narrativa no mundo em relação à diminuição da atividade de exploração e produção de petróleo e gás natural, de acordo com ele, impactada pela guerra entre Rússia e Ucrânia.
“Alguns esperavam que a COP 28 fosse mais ambiciosa, principalmente em relação ao phase out de exploração e produção de petróleo e gás. Mas é necessário reconhecer que esse caminho já havia sido desmistificado na COP anterior, quando se passou a falar em phase down de emissões. A guerra colocou a pauta da segurança energética junto com a transição energética. O mundo deve, sim, buscar a transição dos combustíveis fósseis de forma equilibrada, gradual e responsável. É uma redução da participação desses combustíveis na matriz energética global, sem necessariamente ter uma data de quando isso acontecerá em definitivo, como alguns esperavam que essa COP trouxesse”.
Um outro ponto destacado pelo gerente de Sustentabilidade foi a ampliação da discussão dos objetivos de desenvolvimento sustentável. Victal afirmou que combater as mudanças climáticas significa combater a pobreza, a fome, melhorar o saneamento básico, proteger a natureza e dar energia renovável e segura a preço acessível.
“Essa pauta de Direitos Humanos esteve mais presente nessa COP, eu assisti a vários debates sobre o tema nessa edição. Justiça climática tem uma relação direta com Direitos Humanos. Do ponto de vista de ambição avançou naquilo que foi possível, em termos de firmamento de compromissos, que foi o Financiamento de Perdas e Danos. Foi fundamental triplicar os investimentos em renováveis, um ganho espetacular, e a inclusão de outras pautas relacionados à mudança climática também foi um avanço dessa COP”.
O executivo disse ainda que a COP 30 será fundamental para os países apresentarem as suas novas metas de redução climática, as NDCs. A sigla, traduzida para o português como Contribuição Nacionalmente Determinada, foi criada na COP 21, em 2015, quando foi assinado o Acordo de Paris, maior acordo climático da história com adesão de quase todos os países. As NDCs, segundo Victal, são as ações voluntárias dos países para limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius e são revisadas a cada 5 anos.
“Não se pode esperar nesse meio do caminho que as coisas sejam estabelecidas de uma vez por todas, é um processo em construção. Acho que a COP 28 foi fundamental para colocar em equilíbrio as visões do mundo sobre os combustíveis fósseis, que terão seu espaço reduzido nesse mundo global, mas não significa que um mundo descarbonizado será um mundo sem hidrocarbonetos. A edição 28 da conferência resgata um conceito de COPs passadas de que a responsabilidade é de todos, porém respeitando as peculiaridades, as condições, a economia de cada país, e, principalmente, a autonomia dos países tomarem as suas decisões. A partir daí, eu acredito que os países terão maior conforto em revisar suas NDCs, trazendo as ambições que são possíveis em 2030”.