* Por Caio Mello, do Meio
Os biocombustíveis são peças fundamentais na evolução energética brasileira. Em um cenário global que demanda soluções energéticas capazes de reduzir emissões de carbono e mitigar os impactos das mudanças climáticas, o Brasil se destaca como uma potência na produção e no uso de biocombustíveis, especialmente o etanol e o biodiesel. O etanol, derivado principalmente da cana-de-açúcar, é adicionado à gasolina na forma de etanol anidro, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa do combustível. Além disso, é usado puro em larga escala em veículos flex, que representam mais de 80% da frota de veículos leves no Brasil e podem rodar tanto com o biocombustível quanto com gasolina. Já o biodiesel é um biocombustível produzido a partir de óleos vegetais e gorduras animais que é misturado ao diesel fóssil e representa uma parcela significativa do combustível utilizado em veículos pesados no Brasil, como caminhões e ônibus.
Nos últimos anos, o país tem buscado desenvolver soluções ainda mais inovadoras, como o Diesel Verde ou HVO, combustível produzido a partir do hidrotratamento de óleos vegetais e que é drop in, ou seja, quimicamente análogo ao diesel fóssil e não demanda alterações nos motores e infraestruturas existente. Outros exemplos são o coprocessamento, uma tecnologia que consiste na mistura e processamento simultâneo de óleos vegetais com óleos minerais em unidades de refino tradicionais, para produzir combustíveis mais sustentáveis; e o etanol 2G, obtido de resíduos agroindustriais, como o bagaço de cana, que é considerado um dos combustíveis com menor pegada de carbono do mundo. Além disso, tem o desenvolvimento do SAF (Sustainable Aviation Fuel), um combustível equivalente ao querosene de aviação (drop in), produzido a partir de matérias-primas renováveis ou resíduos e que atente a padrões de sustentabilidade internacionais e contribui com a redução de emissões do setor de aviação.
No cenário internacional, o Brasil se destaca como o segundo maior produtor de biocombustíveis do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Em 2023, o país produziu mais de 72 mil metros cúbicos de biocombustíveis por dia, o que equivale a 21,9% da produção global. Essa posição de liderança é fruto não apenas da vasta extensão de terras cultiváveis do país e da diversidade de matérias primas, mas também reflete o know-how consolidado nesse mercado. No Brasil, os biocombustíveis representam 22,5% do consumo energético do setor de transportes, e seus benefícios para a redução de emissões são significativos. Estudos indicam que eles podem emitir até 80% menos gases ao longo de seu ciclo de vida em comparação com os combustíveis fósseis.
Entretanto, o setor enfrenta desafios. A produção sustentável e rastreabilidade de matérias-primas, a estabilidade regulatória e a necessidade de investimentos em novas tecnologias e infraestrutura são pontos de atenção para o futuro. O projeto de lei “Combustível do Futuro”, sancionado no último dia 8, procura justamente integrar outras políticas públicas relacionadas ao tema, assegurando um arcabouço legal para expandir o uso de biocombustíveis na matriz energética brasileira, o que reforça o compromisso com a redução de gases de efeito estufa. Dessa forma, à medida que o país avança na evolução energética, os bicombustíveis tornam-se vez mais relevantes para o cumprimento das metas nacionais de descarbonização, posicionando o Brasil como um dos principais protagonistas na agenda global sustentável.