Em um cenário global de transformações aceleradas, falar sobre energia vai muito além de discutir fontes e tecnologias. É sobre segurança, inclusão, inovação e futuro.
É por isso que, pelo segundo ano consecutivo, o IBP levou esse debate para uma das newsletters mais influentes do país: o Canal Meio. Foram 12 edições especiais e 6 vídeos no YouTube, que ajudaram a traduzir temas complexos — como transição energética justa, papel do petróleo, biocombustíveis, SAF e impacto da inteligência artificial na demanda por energia — para uma audiência ampla e qualificada.
Nesta retrospectiva, o Além da Superfície reúne os principais conteúdos dessa parceria, que reforça nosso compromisso com informação clara e diálogo aberto sobre os desafios e oportunidades da energia no Brasil.
1- Garantir energia segura e acessível: o desafio de uma transição energética justa
Em termos de contradições, o Brasil continua campeão. Milhões de famílias no país vivem em estado de pobreza energética, ou seja, sem acesso confiável à eletricidade. Ao mesmo tempo, o país é um dos maiores produtores de petróleo do mundo e tem uma das matrizes elétricas mais renováveis. Por isso, conciliar essas realidades que coexistem virou o centro da discussão sobre transição energética justa. O problema é que o debate tem sido dominado por extremos, como se fosse um “Fla-Flu” e quase sempre se descola da realidade.
2- Brasil é o 8º maior produtor de petróleo, mas dependência é moderada
A fatia do petróleo no PIB brasileiro fica abaixo de 5%, muito distante da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes, em que a riqueza nacional depende diretamente do fluxo de óleo e gás. Mesmo assim, o setor é central para as contas públicas. Entre 2018 e 2022, governos no mundo inteiro ficaram com metade da receita da indústria, algo como 8,5 trilhões de dólares. Uma análise do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) aponta que o setor é responsável por uma arrecadação anual superior a R$ 325 bilhões para os cofres da União, estados e municípios, considerando os dados de 2023.
3- Setor de combustíveis é pilar da economia e enfrenta avanço do crime organizado
A presença estratégica do setor está presente também em momentos de emergência, como nas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024. Mesmo com bloqueios em rodovias e dificuldade de acesso a algumas regiões, não houve colapso no abastecimento. Dutos seguiram operando, misturas obrigatórias foram flexibilizadas e cessões entre distribuidoras foram autorizadas para ampliar a capacidade de estocagem. O setor atuou de forma coordenada com as autoridades para garantir que combustíveis continuassem chegando aonde eram mais necessários. Mas essa engrenagem essencial tem sido constantemente atacada por práticas criminosas. Sonegação fiscal, adulteração e contrabando diminuem a arrecadação, colocam o consumidor em risco por combustível adulterado e enfraquecem empresas que operam dentro da lei.
4- Por que o Brasil ainda precisa do petróleo em tempos de transição energética?
O Brasil está à frente da média global na transição energética. Metade da oferta total de energia já vem de fontes renováveis e a matriz elétrica é majoritariamente renovável graças a usinas hidrelétricas, energia eólica e solar. Além disso, o país é o segundo maior produtor de biocombustíveis, e a produção de petróleo no pré-sal tem intensidade de carbono abaixo da média mundial.
5- Margem Equatorial reacende debate sobre o futuro do petróleo no Brasil
Em um momento em que o debate público discute cada vez mais a descarbonização, os dados sustentam que o Brasil ainda vai precisar do petróleo por muito tempo, inclusive para contribuir para uma a transição energética justa. Estudo da Empresa de Pesquisa Energética mostra que o país tem uma das matrizes mais renováveis do planeta, mas isso não elimina o papel estratégico do óleo e do gás para o país. Só o setor de exploração e produção deve responder por 64% dos investimentos em energia previstos no Novo PAC. Em valores, são mais de R$ 360 bilhões, que contribuem para investimentos em pesquisa, programas sociais, projetos de inovação e políticas climáticas de mitigação e adaptação.
6- Corrida por IA eleva demanda por energia e renova papel do petróleo
A inteligência artificial já faz parte do cotidiano de pessoas e empresas. Seu uso, robusto em algumas situações, faz aumentar a demanda por energia. Modelos de IA que treinam por semanas ou até meses exigem uma infraestrutura elétrica robusta, com servidores que nunca desligam e sistemas de refrigeração potentes. No Brasil, data centers, como o que foi inaugurado em Barueri no ano passado, consomem energia comparável à de regiões metropolitanas inteiras. E isso representa um novo patamar de demanda que o sistema elétrico precisa absorver.
7- O paradoxo da indústria de petróleo e gás: vagas em alta, profissionais em falta
A indústria de petróleo e gás enfrenta um paradoxo: em meio à pressão pela transição energética e pela busca de eficiência, cresce a demanda por profissionais altamente especializados ao mesmo tempo em que falta gente qualificada para ocupar essas vagas. O problema não é exclusivo do Brasil, mas o país desponta entre os mais afetados.
Um estudo da FGV Energia projeta que o setor precisará de 250 mil novos trabalhadores até 2030. Já uma pesquisa da Abespetro, em parceria com o Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), mostra que a carência atual já chega a 15% a 20% da força de trabalho qualificada, sobretudo em serviços especializados.
8- Biocombustíveis ganham força, mas concorrer com combustíveis fósseis é desafio
O debate entre eletrificação e biocombustíveis não é sobre fazer uma opção, já que, no Brasil, os dois caminhos avançam lado a lado. De um lado, a eletrificação cresce apoiada em uma matriz elétrica que já é majoritariamente renovável. De outro, os biocombustíveis seguem como uma das forças mais consolidadas da transição energética, aproveitando vantagens comparativas do Brasil, sobretudo o sol, solo fértil e a biomassa.
9- Brasil importa 100% do metanol que consome, mas pode liderar produção verde
Com 5 mortes confirmadas e 9 óbitos em investigação no Brasil, a crise do metanol em bebidas alcoólicas destiladas fez a substância entrar nos assuntos mais comentados. O mau uso e a desinformação, porém, fazem com que os usos benéficos desse combustível sejam esquecidos.
10- SAF ganha escala e Brasil busca espaço como fornecedor estratégico
O SAF, sigla para Sustainable Aviation Fuel, ou combustível sustentável de aviação, se tornou peça central nas estratégias para reduzir a pegada de carbono do setor aéreo. A meta é zerar as emissões líquidas até 2050 e para isso, a estimativa é que o SAF represente até 65% da redução necessária. O principal atrativo do SAF está justamente na sua capacidade de reduzir significativamente as emissões de carbono em comparação ao querosene de aviação fóssil. Além disso, por ser uma mistura ou coprocessado de componentes fósseis e renováveis que atendem às especificações técnicas do JET A e A1, o SAF pode ser integrado à infraestrutura existente sem necessidade de adaptações em aeronaves ou aeroportos.
11- Indústria de O&G firma pacto por equidade de gênero e reforça agenda de inclusão
As mulheres representam apenas 23% da força de trabalho na indústria global de petróleo e gás, e esse número cai para 1% quando se olha para cargos de CEOs. Apesar de o diagnóstico ser negativo, o prognóstico aponta para um caminho mais diverso, com as empresas se articulando para ampliar as oportunidades para mulheres no setor.
12- Brasil aposta no equilíbrio entre transição e segurança energética
Uma transição energética equilibrada não pode ser um rompimento brusco, mas uma travessia longa, que exige equilíbrio entre o mundo que já existe e o que está sendo construído. Nesse ponto, o Brasil se apresenta nesse cenário como um ator peculiar e potencial protagonista. O país é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, mas, ao mesmo tempo, tem uma das matrizes energéticas mais renováveis entre os países em desenvolvimento. Então, o petróleo e o gás continuam tendo um papel relevante para garantir a segurança energética do país e, além de tudo, também financiar o caminho para uma economia com menor emissão de carbono. Roberto Ardenghy, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), defende que o setor não é obstáculo, mas parte da solução.
