Atração de jovens talentos no setor de óleo e gás passa pela tecnologia

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ATUALIZADO EM junho 2023

Para entender como a indústria de óleo e gás busca novos talentos em tempos de Transformação Digital e Transição Energética, o Além da Superfície conversou com Thaise Temoteo, analista em Diversidade e head do Comitê Jovem do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP). Jornalista de formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), ela explicou que o setor é extremamente inovador, com possibilidade de absorver diferentes tipos de profissionais. Também citou que os pontos que mais atraem os jovens talentos são o desenvolvimento de novas tecnologias e a possibilidade de contribuírem com a Transição Energética. Confira a entrevista completa a seguir.

Além da Superfície: Em termos de idade, o que é um jovem talento para a indústria de óleo e gás?

Thaise: Aqui no IBP, a gente trabalha com a faixa de até 35 anos, a mesma idade que é trabalhada internacionalmente. São três grandes públicos:

1) estudantes de ensino médio e estudantes de ensino técnico, principalmente técnico em Petróleo e Gás, técnico em Química, técnico em Mecânica, técnico em Eletromecânica e em Segurança do Trabalho;

2) estudantes de graduação, com uma maioria sendo das Engenharias. Não só Engenharia do Petróleo, mas também Engenharia Mecânica, Engenharia Química, Engenharia de Produção. Nosso desafio agora tem sido atrair estudantes de outros cursos, porque a gente precisa realmente de diversificação de perfis, de múltiplos conhecimentos para conseguirmos inovar. Uma pessoa que fez Medicina tem espaço dentro da indústria de petróleo e gás, uma pessoa que fez Economia, Comunicação. São pessoas que têm espaço na indústria;

3) os jovens que não estão mais necessariamente na graduação, que já estão no mercado de trabalho, fazendo uma pós-graduação e começando a conhecer um pouco mais sobre a indústria, mais sobre as demandas do mercado de trabalho.

Além da Superfície: O que a indústria de óleo e gás precisa fazer para atrair jovens talentos que hoje são fascinados, por exemplo, pela indústria de Tecnologia?

Thaise: A Comunicação tem um papel fundamental para isso. A indústria de petróleo e gás é uma indústria muito tecnológica com profissionais extremamente capacitados. Como poderíamos ter hoje o pré-sal sem um grande aparato tecnológico? Os jovens muitas vezes não sabem disso, o quanto de tecnologia temos aqui. Precisamos mostrar como são as atividades de exploração submarina, como funciona uma plataforma, simular em 3D essas operações. Quando vou em uma universidade e conto um pouco sobre o que a gente faz, muita gente fica maravilhada, “nossa, mas eu não sabia que era assim”. Sabemos que os mais jovens são muito ligados em questões do meio ambiente, da segurança das pessoas, e também precisamos mostrar a eles o conjunto grande de iniciativas que fazemos há muitos anos para a preservação da vida e para alcançarmos a segurança energética. O petróleo está em todos os lugares da nossa vida, na roupa, no esmalte, no relógio, no carro e no transporte público, e continuará ainda por um bom tempo.

Além da Superfície:  A lógica do mercado é outra nos últimos anos. Antigamente, a pessoa fazia uma carreira e ela não se via trabalhando em uma outra indústria. Como você vê essa nova dinâmica?

Thaise: Eu vejo que isso já mudou bastante e a tendência é que siga mudando e trazendo novas possibilidades profissionais. Eu, por exemplo, sou formada em Jornalismo. Quando estava na faculdade, não imaginava que alguém de Comunicação pudesse trabalhar na indústria de petróleo e gás. Mas pode sim, trabalhar com Comunicação Corporativa, Assessoria de Imprensa. Hoje, trabalho com a temática de diversidade e por isso gosto de, dentro do Comitê Jovem, trazer esse convite para que os profissionais retornem às universidades.

Além da Superfície: Quem hoje está participando do Comitê?

Thaise: Somos cerca de 50 pessoas de empresas diversas, de Exploração & Produção, de Comercialização de Gás Natural, Tecnologia, escritórios de advocacia, empresas de suporte náutico e marítimo, um perfil bem diverso, com profissionais de formações distintas e de diversas regiões do Brasil, que trazem a riqueza para entendermos melhor o nosso trabalho. Mas queremos ampliar ainda mais esse leque de empresas. Hoje, temos as gerações Y e Z e trabalhamos temáticas que são muito importantes como Carreira, Diversidade e Inclusão, Mudanças Climáticas, ESG, Transformação Digital e Transição Energética.

Além da Superfície: Os jovens têm na cabeça a importância de se capacitarem sempre e com aprendizados diversos?

Thaise: Sim. Com certeza têm essa preocupação. Acredito que de um lado a empresa precisa orientar essa pessoa, esse jovem profissional e indicar possibilidades. Por outro lado, cada indivíduo tem objetivos pessoais para a própria carreira. Então, temos jovens que são bem proativos e já chegam falando: “olha, eu quero fazer esse curso, eu quero seguir nessa direção, eu já vi isso aqui, deixa sempre meu nome pra fazer algum tipo de capacitação”. Geralmente, a gente faz um plano de desenvolvimento individual. Esse é um perfil de jovem, mas existe um outro perfil, que são os jovens que ainda não conhecem muito bem a dimensão da nossa indústria, sejam aqueles que já estão trabalhando ou aqueles que estão começando agora. Eu entendo que a gente precisa construir o espaço para que eles tenham contato com essa grande realidade da indústria. Tanto o IBP quanto o Comitê Jovem visam contribuir com essa aproximação.

Quando a gente vai fazer uma palestra numa escola por exemplo, eu pergunto: “quem tem vontade de trabalhar no mercado de petróleo e gás?” São poucos que realmente levantam a mão. Aí eu vou perguntando aleatoriamente quais são os cursos que essas pessoas querem fazer e depois eu falo: “Sabia que quem faz Engenharia Civil pode trabalhar na indústria de petróleo e gás? Você sabia que uma pessoa que faz Comunicação pode trabalhar na indústria de petróleo e gás? Uma bióloga ou um biólogo, uma psicóloga, um assistente social. Todos podem trabalhar na indústria.” Muitas vezes eles não sabem, então eu acho que esses jovens precisam ter algum tipo de mentoria, alguma oportunidade para que esse conhecimento chegue até eles.

Além da Superfície: A indústria é muito masculina. Você falou das diversas profissões que podem trabalhar na indústria. Mas o quanto você vê a possibilidade de mudar esse perfil e fazer com que as empresas sejam realmente mais diversas?

Thaise: É uma esperança, é a minha expectativa, esse é o meu trabalho do dia a dia, de que a gente possa ter uma indústria mais diversa realmente. É uma indústria bastante masculinizada, tem muitos homens, muitas pessoas brancas, muitas cabeças brancas, como a gente fala, tem muitas pessoas com uma história de vida parecida. Não vou universalizar, mas é um perfil realmente, muitas pessoas heterossexuais, de classe média, classe média alta. O trabalho que a gente vem fazendo com bastante intensidade dentro do Comitê Jovem e dentro do IBP é influenciar as empresas, a indústria de maneira geral, para ter essa atenção, esse olhar para a diversificação de perfis. Só intencionalidade não é suficiente, é preciso também a prática. As nossas ações são sempre pensadas para que a gente tenha um espaço de diálogo entre pessoas que tenham as suas diferenças justamente para mostrar o quanto isso é potente, o quanto isso traz novas ideias, novas perspectivas, novos olhares em relação a uma mesma temática. Então, a gente traz para mesa esse debate. Existem vários pilares de diversidade que a gente precisa trabalhar. Hoje, trabalhamos a raça, o gênero, pessoas com deficiência, LGBTQIA+ e a questão geracional, mas a gente tem muito claro quais são as nossas falhas e que há outros temas importantes que precisam ser abordados. A gente faz uma ação intencional de trazer uma representação cada vez mais ampla da indústria. Os jovens que estão hoje no Comitê Jovem, que passaram, que passarão ou quem participa das nossas atividades serão as lideranças do futuro e quando essas pessoas estiverem liderando, essa orientação, essa percepção, já vai ser natural.

Além da Superfície: Como você vê esse novo tipo de profissional que muda de empresa e vê com bons olhos ter outras experiências em outros locais?

Thaise: Essa é uma indústria muito grande, então é possível o profissional, falando aqui do perfil de engenheiro por exemplo, trabalhar numa consultoria, depois numa empresa de tecnologia, pode fazer um curso dentro dessa empresa ou vai fazer um curso em outro país e volta. Pode depois mudar e trabalhar numa empresa de exploração e produção, levar esse conhecimento para uma empresa de dutos, depois trazer esse conhecimento novamente para empresa de gás. Tem uma possibilidade bem grande dentro dessa mesma indústria, que dialoga muito com o desenvolvimento de carreira e novos conhecimentos para esses jovens. A gente tem todos esses perfis de empresas dentro do IBP e eu acho que isso é muito rico porque a gente não perde esse profissional, ele está circulando dentro da indústria, compartilhando seu conhecimento, adquirindo novos conhecimentos, mas sempre contribuindo com esse processo de transformação digital, transição energética, segurança energética e com o papel dessa indústria dentro da questão do meio ambiente e da sustentabilidade de maneira geral.