Rotina de embarcado: conheça o dia a dia de quem trabalha nas plataformas

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ATUALIZADO EM agosto 2021

De cada dez barris de petróleo produzidos no Brasil, 9,7 foram extraídos em campos marítimos, segundo dados da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), relativos ao mês de abril (2021). Por trás destes 2,9 milhões de barris de óleo retirados por dia no Brasil estão centenas de homens e mulheres que atuam nas plataformas de petróleo.

Rotina de embarcado: conheça o dia a dia de quem trabalha nas plataformas
São nessas estruturas gigantes – que pesam muitas toneladas, estão montadas a quilômetros da costa e abrigam dezenas de pessoas – que ocorrem as atividades de produção. As “fábricas” de petróleo em alto-mar não fecham, trabalham 24h e todos os dias do ano.

Quem são as pessoas que atuam na linha de frente da produção de óleo e gás natural no Brasil? O Além da Superfície inicia uma série para mostrar a rotina dos “embarcados”, como são chamados os trabalhadores que atuam nas plataformas.

Nesse primeiro capítulo, conversamos com Matheus Rangel, 29 anos. Técnico elétrico offshore e há dez anos atuando na produção em alto mar, Matheus é também reconhecido por atuar como consultor de carreira. Em seus perfis nas redes sociais, ele orienta profissionais que querem atuar no offshore.

Nessa conversa, Matheus conta sua trajetória: da adolescência como vendedor de verduras em uma cidade do interior do Rio de Janeiro a embarque em plataformas de sete países. Também fala sobre as habilidades requeridas pelo offshore, como virou um influenciador digital e a importância do setor para o Brasil. “Além de movimentar a economia do país, o setor garante o abastecimento da sociedade. A indústria de óleo e gás é muito importante para o hoje e o amanhã do nosso país”, afirma Matheus, que hoje atua na Subsea 7. Confira os principais trechos da conversa.

Como você começou a atuar no offshore?
Minha história começou em 2011, quando eu trabalhava em uma cimenteira e um colega pediu demissão para trabalhar embarcado. Em seguida, uma tia que morava em Macaé (RJ) falou sobre cursos que eram necessários para atuar na área. As informações começaram a se cruzar. Moro no interior do Rio de Janeiro, , em Cordeiro. Na mesma época, minha mãe escutou no rádio que uma empresa estava abrindo um curso de CBSP (Curso Básico de Segurança em Plataforma) na minha cidade. Sem me avisar, ela me inscreveu no curso. No último dia do curso, fui demitido da cimenteira. Digo que foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido. Logo depois, em 11 de setembro, pisei na minha primeira unidade offshore e realizei meu sonho de trabalhar embarcado.

Neste primeiro trabalho, fiquei sete meses, em seguida, fui para outra empresa onde passei mais de quatro anos. Neste momento, o mundo abriu as portas para mim. Um garoto de interior que vendia verdura na cidade, foi bolsista de escola de inglês, estudou em escola pública e, em 2013 estava viajando para Ásia para trabalhar em Cingapura, depois África do Sul, Angola, Argentina, Holanda, Emirados Árabes e EUA.

O que foi determinante na sua carreira?
O inglês foi o principal nessa jogada. No meu primeiro embarque, era o menor cargo da empresa e dentro da embarcação. O diferencial é que eu falava um pouco de inglês. Foi o suficiente para me tirar da posição de ajudante para supervisor do time. E, claro, a educação abriu as portas, mudou minha vida. Estou aqui hoje porque sempre tive vontade de aprender e faço as coisas com sangue no olho, faca no dente.

Quais as diferenças entre a rotina de embarcado e a do escritório?
São atividades e regimes de trabalho totalmente diferentes, mas com o mesmo objetivo: fazer a produção funcionar. Imagine um time de futebol, tem zagueiro, goleiro, atacante. Mesma coisa são os times onshore e offshore. São membros da mesma equipe, cada um na sua posição. Ninguém trabalha mais que o outro, cada um faz o que foi programado. São regimes diferentes e cada um na sua especificidade. No caso do offshore, o turno de trabalho é 12 horas/dia e 7 dias/semana. A rotina normal é ficar 14 dias embarcado e outros 14 em terra.

Que habilidades você enxerga que são necessárias para um profissional trabalhar embarcado?
Identifico cinco principais habilidades. A primeira é saber trabalhar em equipe e com pessoas de culturas e pensamentos diferentes do seu. Você também precisa ser colaborativo, porque vai fazer interface com outros setores. No offshore, é preciso ter a questão de segurança ‘na veia’, ter um senso extremamente elevado de segurança. Também importante é a capacidade de adaptação a novos ambientes. Você hoje trabalha aqui, amanhã pode ser enviado para outro país. E, por fim, ter um mindset focado na busca por aprendizado. O nosso mercado é muito dinâmico, precisamos estar sempre buscando algo novo e aprender com os mais experientes, principalmente.

Qual a trilha que você indica para quem quer atuar no offshore?
A primeira questão é saber sua formação. A partir daí, podemos mapear as funções que o profissional consegue seguir. Além disso, há cursos básicos e necessários antes de pisar em uma plataforma, como CBSP (Curso Básico de Segurança em Plataforma) e Huet (Helicopter Underwater Escape Training). O inglês é sempre um diferencial.

Qual a importância da indústria de óleo e gás para o Brasil?
Além de movimentar a economia do país, o setor garante o abastecimento da sociedade. A indústria de óleo e gás é muito importante para o hoje e o amanhã do nosso país.

Como surgiu a ideia de virar um influencer digital?
Em 2013, abri a primeira vez a minha casa para receber um amigo que sempre pedia orientação para trabalhar embarcado. Botei a TV na varanda e fiz uma apresentação para ele. Três meses depois, ele estava empregado. Decidi abrir aquela experiência para outras pessoas, promovendo cursos gratuitos. Em 2018, resolvi compartilhar esse conhecimento na internet. Hoje, são 15.800 seguidores. Desde então, foram mais de 150 pessoas que saíram do zero e conseguiram uma oportunidade no offshore. Meu propósito é esse: ser ponte na vida de pessoas que desejam trabalhar no mercado offshore.