Rotina de embarcado: “Persistência é a palavra-chave para trabalhar a bordo”

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As descobertas na camada de pré-sal provocaram uma mudança na geografia do petróleo no Brasil, que passou a ter a Bacia de Santos como protagonista. Segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), esta área é responsável por 70% da produção nacional (ANP, jul/2021). Em Santos, um dos destaques é o campo de Tupi, primeira descoberta no pré-sal e líder no ranking nacional de produção. E é em Tupi que trabalha a personagem deste episódio da nossa série Rotina de Embarcado.

Anna Tiemi Pinto Goto, 52 anos, gerente da P-69 foi a primeira gestora de plataforma do pré-sal no Brasil. Oitava unidade instalada no campo de Tupi (ex-Lula), a P-69 é, atualmente, a unidade de exploração offshore da Petrobras que abriga o maior número de mulheres por embarcação. Além de Anna Tiemi, outras 18 mulheres trabalham no FPSO com capacidade para produzir, por dia, até 150 mil barris de óleo equivalente.

Recentemente, além de óleo, a P-69 passou também a enviar ao mercado até 6 milhões/dia de metros cúbicos de gás natural. “É importante saber que a gente está colaborando com o país”, afirma Anna Tiemi. Localizada a 290 km da costa do estado do Rio de Janeiro, em profundidade d’água de 2.150 metros, a P-69 produz óleo e gás por meio de oito poços.

Engenharia mecânica formada pela FTESM – Fundação Técnico Educacional Souza Marques – Anna Tiemi é funcionária da Petrobras desde 2006. Antes de P-69, Anna foi gerente da P-54, na Bacia de Campos. Na conversa com o Além da Superfície, ela conta sua história, relata como é administrar um FPSO e diz que o que é indispensável para quem quer trabalhar embarcado. “Persistência é a palavra-chave para trabalhar a bordo”.  A seguir, confira alguns trechos.

“A Petrobras era meu sonho”

Tenho muito orgulho de atuar como gerente de plataforma. Antes da P-69, ocupei a mesma função na P-54. Minha história na indústria de óleo e gás começou em 1984, quando eu ainda fazia curso técnico; em 1991 trabalhei como contratada na Reduc (Refinaria Duque de Caxias) como técnica em manutenção. A Reduc foi uma grande escola, onde pude conhecer o universo do petróleo. Dali, continuei estudando, fazendo faculdade de Engenharia Mecânica. Formada, fui trabalhar na área nuclear, sempre na área industrial, e acabei ficando uns dez anos longe do setor de óleo e gás, mas sempre atuando com energia. Em 2006, passei no concurso e voltei para a Petrobras, que era o meu sonho. Por cinco anos, atuei na sede da empresa, coordenando a implantação de empreendimentos na área de Refino (Downstream) e Exploração & Produção (E&P). Quando os projetos estavam em fase final, fui convidada para assumir a gerência de manutenção na antiga UO-RIO, no Rio de Janeiro. E, de lá, fui ser gerente de plataforma da P-54.

“P-69: muito orgulho de estar nessa função”

Em 2017, veio um novo desafio: a P-69. Peguei a plataforma desde o estaleiro. Chegamos juntos no pré-sal, em agosto de 2018. Tenho muito orgulho de estar nessa função. Por estar em um campo no pré-sal, o nível de complexidade na P-69 é maior que o da P-54, trabalhamos com níveis mais altos de pressão e o óleo é de melhor qualidade. Além disso, a área do pré-sal tem ventos fortíssimos, o tempo muda com muita rapidez e precisamos estar mais alertas que nunca.

“A plataforma é uma cidade”

A rotina é de 12 horas de trabalho, incluindo sábado e domingo. A plataforma é uma cidade. Minha vida e de outras 159 pessoas estão sob a minha responsabilidade no período em que estou embarcada.

Habilidades para trabalhar embarcado

A primeira coisa é não ter medo de andar de helicóptero e de altura, e não ter problema em ficar confinado no meio do mar. São premissas. Além disso, é preciso passar por treinamentos. Com o CBSP (Curso Básico de Sobrevivência em Plataforma), você recebe a qualificação de primeiros socorros, combate a incêndio, instruções para um possível abandono da plataforma. No HUET (Treinamento de Escape de Aeronave Submersa), que fazemos a cada quatro anos, você é treinado para conseguir abandonar o helicóptero em caso de queda no mar. Tem que ter muito auto controle. Além disso, é preciso saber viver em comunidade, respeitando o limite do outro. Costumo dizer que a bordo somos uma família.

Pré-requisitos: persistência, curiosidade e humildade

Persistência é a palavra-chave para trabalhar a bordo. Como a gente diz, o tempo lá muda para caramba e não é só a condição climática. Estar disposta a encarar essa mudança, é interessante, desafiador. Mantenham a curiosidade a flor da pele e a humildade para aprender mais coisas a respeito do trabalho offshore. Há sempre muito o que aprender com quem está a bordo.

Presença feminina

A P-69 é a plataforma que hoje tem mais mulheres a bordo, no campo de Tupi. A diversidade melhora a visão geral da plataforma. E as funções? Qualquer função que estejamos preparadas! Atualmente trabalhamos como técnicas de produção, embarcação e manutenção, comissárias, enfermeiras, rádio operadoras, técnicas em planejamento, técnicas em química, oficial de náutica, engenheiras de suporte, supervisoras de operação e gerente de plataforma. Precisamos de mais mulheres a bordo!

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