Em janeiro, o Brasil inaugurou um novo capítulo na transição energética ao promulgar a Lei 15.097, que finalmente estabeleceu regras para explorar o potencial da geração eólica em alto-mar. O marco regulatório trouxe previsibilidade e segurança jurídica para um setor que, até então, avançava apenas em estudos e pedidos de licenciamento ambiental. Agora, o desafio é transformar esse potencial em leilões e projetos concretos.
Carlos Victal, gerente de sustentabilidade do IBP, chama atenção para o ritmo acelerado de difusão das eólicas offshore mundo afora, com a China tendo sido o responsável por mais de 50% de das novas instalações em 2022 e 80% em 2021.
“O Brasil não pode ficar atrás, porque tem um grande potencial para desenvolver esse mercado. São mais de 700 gigawatts de energia que podem ser gerados em águas rasas”, explica Victal, reforçando que, dos 234GW em projetos em licenciamento pelo IBAMA, 77GW – cerca de 33% – pertencem a empresas associadas do Instituto, reforçando o interesse do setor no mercado.
Além dos ganhos ambientais, a expansão das eólicas offshore abre espaço para oportunidades econômicas significativas. Esse novo mercado pode impulsionar investimentos em infraestrutura portuária, indústria naval e aumento da capacidade produtiva, movimentando uma cadeia que vai da fabricação de turbinas até o descomissionamento das estruturas. O impacto na geração de empregos também é expressivo: estima-se a criação de cerca de 14,6 postos de trabalho para cada megawatt instalado, além de receitas adicionais para governos e novos negócios para empresas.
Apesar do potencial brasileiro, Muched Nassif, VP Head of Power Latin America da Rystad Energy, traz uma perspectiva mais cautelosa sobre custos e prazos dos projetos. Ele pontuou que a intensidade média de investimento (capex) para projetos eólicos offshore permanece superior à dos projetos onshore, em torno de US$ 3,2 por watt, o que representa um desafio para a competitividade da fonte no mercado livre. O lento crescimento da demanda no mercado regulado também deve limitar as oportunidades em leilões dedicados.
“Por conta dos custos e demanda contraída no médio prazo, não esperamos nenhum projeto em operação antes do fim desta década”, explica o especialista, que também sinalizou existirem 247 GW de projetos de eólica offshore em avaliação no país, com a Petrobras liderando o movimento. Os estados do Rio Grande do Sul e Ceará concentram 59% da capacidade anunciada, beneficiados pela proximidade com portos que facilitam a logística e a conexão com o sistema elétrico.
Juan Tomasini, Head de Hidrogênio e Transição Energética da ANCAP, empresa uruguaia, ressalta também a oportunidades que o país oferece ao mercado eólica na América do Sul. “Temos potencial eólico e atrativos como um cenário de respeito a contratos, estabilidade regulatória, jurídica e altos níveis de integridade”.
Para os especialistas, a aprovação do marco regulatório e a realização do esperado leilão de áreas são os estímulos que o mercado brasileiro aguarda para transformar o potencial em realidade.
“Temos diversas condições, não só naturais, mas também de infraestrutura política e jurídica, que fazem com que o Brasil seja um grande atrativo para os investimentos. E, agora, falta nós consolidarmos a lei através de uma regulamentação eficiente que venha a fortalecer a atração de investimentos”, defende Victal.
*Matéria elaborada a partir do painel “Offshore Wind in Brazil – Next Steps”, da OTC Brasil 2025