OTC: Transição energética, energia renovável e descarbonização foram destaques

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ATUALIZADO EM novembro 2023

A Offshore Technology Conference Brasil (OTC), evento realizado pelo IBP e a OTC entre 24 e 26 de outubro, no Rio de Janeiro, se consolidou como polo internacional das discussões sobre transição energética, energia renovável e soluções em descarbonização. Com uma área de exposição de 9.400m², a feira reuniu mais de 180 empresas que exibiram os seus projetos sustentáveis de inovação para todo o setor de energia, e não apenas para o de óleo e gás.

“Realizamos um evento que não pertence só ao setor de óleo e gás, mas ao setor de energia. Transversalidade e integração estão no horizonte do mercado de eventos, que reúnem as melhores ideias dos players do setor. Aqui, o público acessou cases sobre o futuro da energia desenvolvido por nossos parceiros”, explicou Roberto Ardenghy, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP).

O evento reforçou a visão do mercado sobre o papel de destaque do Brasil no processo de transição energética. Representantes do setor de óleo e gás destacaram o país como a região ideal para o desenvolvimento de projetos. O Chairman da OTC Brasil, Juliano Dantas, pontuou a capacidade de o país contribuir para a transição global. “Temos muitas formas de ajudar com a diversidade de fontes. Mas temos também muitos desafios, como integrar as diferentes matrizes energéticas”.

Com o objetivo de ampliar o debate sobre descarbonização, a OTC Brasil lançou a Arena de Descarbonização e Tecnologia, um espaço que mostrou as iniciativas atuais e inspirou a criação e aceleração de programas nesse contexto.

Setor de óleo e gás liderando a descarbonização

Carlos Travassos, diretor de Engenharia, Tecnologia e Inovação da Petrobras, disse que a descarbonização e a transição energética serão lideradas globalmente pelo segmento de óleo e gás. Ele informou também que a eletrificação é uma tendência no curto prazo nos projetos da companhia. “Já reduzimos 30% de nossas emissões com equipamentos eletrificados”, revelou.

Na cadeia produtiva atual do segmento de energia, cerca de 70% dos equipamentos já são planejados e operam com foco na descarbonização global. Esta é a avaliação de Armando Juliani, Líder de Soluções EAD da Siemens Energy. “A eletrificação é um caminho para diminuir a emissão em determinadas indústrias, como a de automotores”.

Transição para energias renováveis

No segmento de energias renováveis, Travassos indicou o interesse da Petrobras por unidades eólicas offshore, ressaltando a experiência da empresa para liderar este mercado. “Estamos estudando nossa atuação nesse segmento no longo prazo. Temos toda expertise para apoiar o Brasil neste campo de geração de energia renovável”.

A francesa TotalEnergies apresentou o seu portfólio multienergético e as tecnologias no Brasil e no mundo direcionadas para novas energias e redução de emissões. “A feira nos permite discutir caminhos para uma transição energética sustentável, mostrando o quanto estamos focados em desenvolver tecnologias que viabilizem o aumento da produção e a redução de custos e emissão”, destaca Charles Fernandes, Diretor Geral da TotalEnergies no Brasil.

Promovendo uma visão do futuro, João Caldas, líder de Analytics, Novas Tecnologias e Inovação da Casa dos Ventos, avaliou que, em 2050, estaremos conversando sobre a geração 100% solar e eólica. “Temos percebido, na última década, um crescimento de 90% de renováveis no grid”, analisou.

O painel dedicado à eólica offshore deu destaque ao Brasil como mercado promissor, capaz de liderar a transição energética, mas que ainda depende de um marco legal. “Enxergamos o Brasil como um greenfield, um mercado ainda não regulado. Tivemos um decreto, mas esperamos ter um arcabouço mais robusto para dar mais segurança aos investimentos que vão ser requeridos. Precisamos de um arcabouço regulatório sólido que traga segurança para trazermos esses investimentos para cá”, afirmou Fernanda Scoponi, Gerente Sênior de Desenvolvimento de Negócios – Energia Eólica Offshore da TotalEnergies.

A importância do investimento em pesquisas

Outro grande representante do setor, a Repsol Sinopec aproveitou a OTC para divulgar seu projeto de descarbonização, baseado em pesquisa e desenvolvimento. “Queremos implementar no Brasil um hub de tecnologias para negativar as emissões. Apostamos na captura direta de carbono da atmosfera, com a implementação, ainda inédita na América Latina, do primeiro equipamento de captura direta de CO2 do ar”, explicou Cassiane Nunes, gerente de Suporte e Portfólio de Pesquisa da empresa.

Jorge Pizarro, coordenador de controle de reservatório da PPSA, falou sobre os diversos mecanismos para captura e armazenamento de carbono (CCUS) nos reservatórios do pré-sal. “Temos grandes perspectivas para programas de CCUS para o pré-sal nos próximos 20 – 30 anos. Teremos avanço na tecnologia offshore e em estudos econômicos para viabilizar os projetos”, avaliou.

Hoje, a Petrobras possui o maior projeto de CCUS do mundo no pré-sal, com 23 plataformas equipadas com sistemas de armazenamento. Mais de 40 milhões de toneladas de CO2 foram reinjetados nos reservatórios até 2023 e a meta é alcançar 80 milhões até 2025.

Em painel celebrando seus 25 anos, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil (ANP) trouxe o debate sobre a cláusula de investimentos em pesquisa e desenvolvimento nos contratos de exploração e produção de petróleo e gás.

Todos os participantes do debate destacaram que a cláusula tem garantido o desenvolvimento de novas tecnologias que vão além de exploração e produção. “Estamos focando em investimentos que comportem também energia renováveis, hidrogênio verde e descarbonização. Em 2022, foram mais de US$ 1 bilhão investidos em pesquisa e desenvolvimento”, reforçou Daniel Maia, Diretor da ANP.

Transição energética no setor marítimo

Segundo dados apresentados durante o evento, Brasil e Noruega devem estreitar os laços diplomáticos e econômicos para liderar a transição energética no setor marítimo, que hoje opera com cerca de 90% de sua capacidade a partir de combustíveis fósseis.

“Há um projeto de Lei no Congresso sobre o Combustível do Futuro, que contempla o setor aeroviário, mas não o marítimo, o que gera uma lacuna importante. A Noruega tem vasta experiência em emissões de baixo carbono no setor marítimo e complementaridades estratégicas com o Brasil”, afirmou Valéria Lima, Diretora Executiva de Downstream do IBP.

“A cooperação técnica e científica entre Brasil e Noruega pode contribuir para o desenvolvimento e pesquisa de tecnologias relacionadas a combustíveis marítimos verdes, fomentando a troca de conhecimento e experiências, e promovendo avanços conjuntos no campo da energia limpa no setor naval”, completou Raquel Filgueiras, advisor América Latina para os setores de O&G e Naval na Innovation Norway.

Rafaela Guedes, Senior Fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), que conduziu um estudo sobre transição energética para o setor marítimo em parceria com o Consulado da Noruega, destacou que a solução para a descarbonização deste setor no Brasil não será única. “Para o Brasil, uma rota muito importante será a dos biocombustíveis, o que não excluirá, por exemplo, a eletrificação de pequenas embarcações de curta distância, em especial na Amazônia”, ressaltou.