*Artigo escrito por Aline Muniz (Total Energies) e Danielle Galdino (Vibra Energia), integrantes do GT de Gênero do IBP.
A participação da indústria de petróleo e gás no desenvolvimento socioeconômico brasileiro é expressiva e, segundo estimativas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), representa atualmente 10% do PIB nacional e 1,6 milhão de empregos diretos e indiretos. Além disso, é um setor que apresenta um nível salarial 7,3 vezes maior à média nacional, resultando em uma maior demanda de profissionais qualificados.
Contudo, o setor enfrenta desafios contínuos em relação à equidade de gênero. A falta de representatividade em cargos de liderança – apenas 1% dos cargos de CEOs (IOGP, 2023) – e os obstáculos para acessar oportunidades de emprego e desenvolvimento – 16% dos cargos em empresas de petróleo e gás nacionais (Dieese/FUP, 2022) -, são dados que impressionam e que evidenciam a baixa presença feminina na indústria.
Dentre os objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), a igualdade de gênero e empoderamento das mulheres é um dos temas principais (ODS-5) e é fundamental para construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde as mulheres tenham os mesmos direitos e oportunidades que os homens.
Para entender um pouco mais como o setor brasileiro de petróleo e gás está contribuindo para essa pauta, Grupo de Trabalho de Gênero do IBP liderou uma pesquisa de benchmarking sobre Igualdade de Gênero com 22 respostas durante o primeiro semestre de 2024. Nessa pesquisa, foram realizadas 10 perguntas que abordaram temáticas como composição de cargos de lideranças, equidade salarial, iniciativas para promoção de um ambiente mais inclusivo, entre outras.
A busca pela equidade de gênero destaca a necessidade de garantir a participação plena das mulheres em todos os níveis de tomada de decisão. Segundo pesquisas do Fórum Econômico Mundial, organizações com maior diversidade de gênero apresentam melhor desempenho financeiro e resiliência organizacional. O presente estudo aponta que, nas 12 empresas que possuem metas formais para aumentar o efetivo de mulheres em cargos de liderança, esse resultado oscila entre 23% e 38%, indicando que ainda é possível avançar em um ambiente corporativo mais igualitário.
Entre as empresas que participaram da nossa pesquisa, 59% afirmam que os salários para homens e mulheres são equiparados diante dos mesmos cargos. O Plano de Cargos e Salários é utilizado por 41% delas , com objetivo de estabelecer critérios claros de remuneração, o que favorece a isonomia de acesso a aumentos e promoções, além de trazer transparência para o processo. Entretanto, mais da metade das empresas que ainda apresentam uma discrepância salarial não realiza monitoramento para reversão desse quadro, apesar de promoverem outras iniciativas de conscientização sobre igualdade de gênero.
Manter políticas de diversidade, equidade e inclusão e programas de treinamento para líderes e força de trabalho demonstram a relevância do tema para as empresas do setor. Por se tratar de um segmento em que a inserção de mulheres ainda é um desafio, adotar ações como recrutamento afirmativo, EPIs específicos e instalações femininas dedicadas (salas de aleitamento materno, vestiários e camarotes), pode contribuir para uma mudança gradual desse cenário.
No mais, vale destacar que 95% das empresas disponibilizam para suas colaboradoras um canal de denúncia de assédio. Esse é instrumento crucial, pois oferece um meio seguro e confidencial para que sejam relatadas práticas ilegais ou antiéticas, como assédio sexual e moral, sem medo de retaliação. Dessa forma, é possível garantir um ambiente de trabalho saudável e seguro, e demonstra o compromisso da empresa com a ética e a integridade.
Com base na análise realizada, observa-se que a presença feminina no segmento vem crescendo graças à adoção de metas claras e ações intencionais, revelando a atenção das empresas participantes do benchmarking para a temática de equidade de gênero. No entanto, para que as mudanças sejam concretas, é fundamental que as iniciativas atuais sejam ampliadas, com foco em avaliações regulares, maior transparência e um compromisso ativo das lideranças em transformar o setor em um espaço verdadeiramente inclusivo e igualitário.
Trata-se apenas do resultado da primeira pesquisa promovida pelo Grupo de Trabalho de Gênero do IBP. A pauta também é recente na agenda das empresas. A ausência de dados comparativos pregressos aguça o interesse sobre como os avanços relacionados à diversidade e inclusão vão se comportar ao longo do tempo. Contudo, alcançar o patamar de 82% das empresas participantes engajadas em ações estruturantes sobre igualdade de gênero traz a certeza de que o caminho a percorrer é bastante promissor.
Acesse aqui o infográfico da pesquisa realizada pelo GT de Gênero e confira maiores detalhes das respostas.