Rio Oil & Gas discute os desafios do novo mercado de gás natural

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ATUALIZADO EM novembro 2020

Um dos grandes temas em discussão na Rio Oil & Gas 2020 é o gás natural. O setor está passando por uma grande transformação com o novo mercado de gás natural. Um novo cenário que inclui novos agentes, mais competição, perspectiva de aumento da oferta com as reservas do pré-sal e aprimoramentos regulatórios. Nessa entrevista ao Além da Superfície, Marcelo Alfradique, Superintendente Adjunto de Petróleo e Gás Natural da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) e chair de gás natural do comitê organizador da Rio Oil & Gas, fala sobre os desafios e perspectivas do setor. A evolução da indústria de gás natural é um assunto que estará presente em diferentes blocos temáticos da Rio Oil & Gas, incluindo Transição Energética e Transformação Digital. Nesta entrevista, Alfradique fala sobre os principais desafios para promover a monetização do gás natural do pré-sal, a integração com o setor elétrico e sua importância na transição energética. No futuro, Alfradique aponta ainda a oportunidade do uso da infraestrutura de transporte de gás natural para outras aplicações, como transporte de biometano ou de CO2.

O mercado de gás natural no Brasil está passando por uma transformação jamais vista. De que forma este novo cenário será tratado na Rio Oil & Gas?
O mercado de gás natural está passando por mudanças advindas principalmente de dois movimentos. Um deles é o interesse de novos agentes em participar dos diversos elos da cadeia, desde a produção, escoamento e processamento até a comercialização do produto. O outro movimento é a redução da participação do agente incumbente na oferta de gás natural ao mercado. Atualmente, o Brasil está enfrentando desafios que já foram observados em outros países que passaram por esse processo, como a definição da forma que os agentes poderão interagir no mercado.
Mas há também desafios advindos das especificidades do setor energético nacional e do cenário atual rumo à transição energética. Um exemplo é o aumento da participação das fontes renováveis com geração variável – como eólica e solar -, ainda que o sistema atual seja majoritariamente termo-hidráulico. Sendo assim, temas relativos ao gás natural estarão presentes em vários dos blocos temáticos do Rio Oil & Gas 2020. Desde os mais diretamente relacionados à cadeia, como Exploração e Produção, Midstream e Downstream, Oferta e Demanda, até aqueles que tratam sobre Transição Energética e Transformação Digital, que certamente influenciarão e serão influenciados pela evolução da indústria de gás natural nos próximos anos.

Aprovação da nova lei do gás, regulamentação do consumidor livre, acesso de terceiros às infraestruturas essenciais. Esses são alguns dos desafios que se colocam para o desenvolvimento do gás natural no Brasil. Quais perspectivas para resolução destes desafios e promoção do crescimento da demanda nacional de gás natural?
Algumas alterações de caráter infra legal e regulatório já vêm sendo implementadas no sentido de modernizar o setor de gás natural no Brasil, como o TCC assinado entre Cade e Petrobras, o Decreto 9.616/2018 e as resoluções da ANP que tratam sobre desverticalização e promoção do acesso ao sistema de transporte. No entanto, outras questões dependem de alteração legal para que possam ser implementadas, como a consolidação do acesso de terceiros a infraestruturas essenciais de forma mais ampla. A aprovação da Nova Lei do Gás também facilitará a outorga de novos gasodutos de transporte e trará maior segurança jurídica ao mercado. O crescimento da demanda deverá seguir critérios de viabilidade técnico-econômica e vemos que existem diversas oportunidades que poderão ser desbloqueadas no novo marco legal e regulatório. Neste sentido, a iniciativa privada será uma grande parceira na implementação de novas infraestruturas na maximização do uso da infraestrutura existente, uma vez que haja segurança jurídica e estabilidade regulatória para atrair investimentos.

Quais os principais desafios para promover a monetização do gás natural do pré-sal?
O gás natural do pré-sal possui teores consideráveis de CO2 em alguns campos o que, aliado às grandes distâncias até o litoral, pode encarecer a infraestrutura de tratamento offshore e de escoamento. Por outro lado, existem também campos mais próximos à costa e/ou com baixos teores de CO2, o que incita um tratamento bastante específico projeto-a-projeto para entendermos os desafios individuais em cada caso. Um desafio generalizado tem sido a prospecção de demanda por gás natural, que deve promover relativa firmeza e baixo risco para que os agentes decidam investir nestas infraestruturas intensivas em custos. Com a modernização prevista nos processos de reserva de capacidade no sistema de transporte de gás natural, com diferentes prazos e regimes de flexibilidade, os produtores do pré-sal poderão contar com um grande portifólio de demandas distribuídas por toda a malha integrada para que possam monetizar sua produção. Além disso, as tecnologias de gás natural comprimido (GNC), gás natural liquefeito (GNL) e/ou gas-to-liquids (GTL) poderão contribuir para ampliar o portifólio de clientes e reduzir o risco comercial.

E a integração do setor de gás natural com o setor elétrico, quais desafios temos a enfrentar?
Assim como o setor de gás natural, o setor elétrico também passa por uma modernização, considerando as novas necessidades e regimes de demanda que estamos observando. No médio prazo, é possível enxergar três tendências na expansão da matriz elétrica brasileira: 1) aumento expressivo da participação de fontes renováveis com geração variável; 2) ampliação significativa da geração distribuída; e 3) redução da participação relativa das usinas hidrelétricas com reservatórios de regularização. Estes elementos impõem a necessidade de mecanismos de flexibilidade de geração para se garantir a confiabilidade de suprimento do sistema elétrico.

Neste cenário, como se posicionam as termelétricas a gás natural?
Elas emergem como candidatas competitivas para o atendimento à confiabilidade do sistema. Por outro lado, o gás natural, especialmente no caso do pré-sal, tende a necessitar de demandas firmes, já que está muitas vezes associado à produção de petróleo e requer um regime constante de produção. Neste sentido, um dos principais desafios para a integração é o equacionamento das questões de flexibilidade de geração elétrica e inflexibilidade de oferta de gás natural.

Quais seriam as alternativas possíveis resolver essa equação?
Entre outras, cito três alternativas: 1) a constituição de portfólios de demanda flexível e interruptível que possam ser complementares; 2) a implementação de alternativas de peak-shaving como terminais de GNL com armazenamento; e 3) a construção de instalações para estocagem de gás natural que permitam normalizar os fluxos.

Quais as perspectivas quanto ao gás natural como combustível da transição energética?
O gás natural vem atuando historicamente como complemento energético no sentido de prover geração elétrica de forma sazonal em combinação com as hidrelétricas. Pode ainda ser observado um potencial futuro para atendimento à ponta e outros serviços com alta flexibilidade. Estas aplicações já vêm promovendo segurança para o setor elétrico brasileiro, e permitindo uma maior penetração da energia eólica. Além disso, a infraestrutura existente e futura de gás natural poderá ser adaptada e utilizada para outras aplicações ao longo dos anos. Exemplos são o uso para o transporte de biometano; para transporte de gás natural ou biometano que será convertido em hidrogênio nas malhas de distribuição estaduais; e para transporte de CO2 em estratégias de captura e armazenamento de carbono, entre outras opções. Como é um dos combustíveis fósseis com menor emissão específica, o gás natural pode ser utilizado para substituir combustíveis líquidos, como o diesel e o óleo combustível, se tornando uma ponte para energias com menor emissão total no ciclo de vida (por exemplo, biometano).

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