O que aconteceu na Rio Oil & Gas 2020 sobre transição energética

IBP
ATUALIZADO EM dezembro 2020

Um dos principais temas da agenda mundial, a transição energética foi um dos destaques na programação da Rio Oil & Gas. O Além da Superfície inicia com este assunto uma série de reportagens mostrando, por eixos temáticos, o que aconteceu durante o evento, um dos maiores encontros globais da indústria de óleo e gás. Confira a seguir o que aconteceu na Rio Oil & Gas 2020 sobre transição energética.

O futuro da indústria é o da transição energética

O caminho da indústria de óleo e gás natural é o da transição energética, mas o futuro terá espaço para diferentes fontes de energia. A opinião do novo CEO global da Equinor, Anders Opedal, deu a direção dos debates sobre o tema durante a Rio Oil e Gas. Durante os três dias, em diferentes frentes, este assunto esteve presente no evento.

Os palestrantes discutiram os impactos da geopolítica na transição, em especial após a eleição de Joe Biden para presidente dos EUA, o ritmo desta transformação e as demandas da sociedade. A indústria avalia o cenário atual de forma positiva e enxerga que a transição deve atrair muitos investimentos, e que a indústria de óleo e gás tem muito a contribuir com sua expertise.

Durante o CEO Talks, Opedal lembrou da meta recentemente anunciada pela companhia de zerar as emissões até 2050. Segundo ele, até lá o mundo vai continuar consumindo óleo e gás, mas ressaltou: “Não podemos focar apenas na produção de óleo e gás, e sim em produzir com a menor emissão de carbono possível”.

Na opinião do executivo, as diferentes fontes podem caminhar juntas e é possível unir a experiência da indústria de óleo e gás ao desenvolvimento de projetos eólicos offshore, por exemplo, assim como levar energia elétrica para o funcionamento de plataformas de petróleo. “Nós podemos contribuir, podemos fazer a diferença nesse contexto”, ressaltou ele. Nas Perspectivas Energéticas da Equinor, o cenário “Rebalance” mostra que a demanda global por petróleo e gás será em 2050 ainda em torno de 50% do nível atual.

Vice Chairman da IHS Markit e referência mundial em energia, Daniel Yergin destacou a importância da geopolítica internacional na definição dos investimentos. Para ele, o crescimento das energias renováveis está alinhado com o compromisso de muitos países para alcançar metas estabelecidas no Acordo de Paris. Na opinião de Yergin, Biden terá papel fundamental em fomentar políticas públicas no combate às mudanças climáticas, especialmente quando se percebe os objetivos da China para alcançar a neutralidade de carbono em 2060. “No caso de Biden, acho que ele se aproximará da posição europeia e os EUA se tornarão muito ativos na diplomacia climática”, disse Yergin.

Para Jason Bordoff, Diretor-Fundador da School of International and Public Affairs da Universidade de Columbia, a eleição de Joe Biden também sinaliza a importância das mudanças climáticas, e o impacto na energia, na política norte-americana. E Biden, para Bordoff, terá uma oportunidade única para debater o progresso para uma matriz mais limpa e acessível com o poder legislativo norte-americano.

Bordoff acredita que John Kerry, escolhido para liderar a transição energética na gestão Biden, poderá analisar o uso mais amplo do hidrogênio, de tecnologias CCUS e fomentar a mobilidade urbana elétrica.

Transição energética deve gerar até trilhões em investimentos

Segundo Michel Frédeau, Managing Director, Senior Partner e Head da BCG Global Climate Leadership Team, o momento é de otimismo, por conta da conscientização pública, movimentos políticos globais – eleições americanas e entrada da China no Acordo de Paris – e oportunidades para crescimento econômico. “A transição energética, nesta geração, deve gerar bilhões, até trilhões, em investimentos para diminuir emissões e alcançar objetivos sustentáveis”, disse.

Na opinião de Mark Wiseman, ex-VP da Blackrock, “não é mais um debate sobre quem acredita ou não nas mudanças climáticas”. “Já passamos disso. O ponto é que haverá regulações mais duras e consumidores demandarão mais das companhias. O debate acabou. Nós veremos a transição acontecer”, afirmou. Ele lembrou os desafios atuais dos CEOs de grandes empresas de energia, cada vez mais pressionados por investidores para que tenham portfólios mais sustentáveis. “Além disso, outra dificuldade é a falta de padronização de indicadores e métricas divulgáveis em relatórios com resultados de uma agenda ESG (sigla para Social, Governança e Meio Ambiente). Precisamos de modelo padronizável e auditável”, lembrou Mark.

Já Andrew Gould, ex-CEO da Schlumberger, lembrou das peculiaridades do setor de energia e alertou para a necessidade de prazos para a transição. “Cerca de 84% da energia global vem de combustíveis fósseis. Os sistemas de energia são altamente complexos e integrados. Para que as empresas especializadas nas matrizes atuais possam fazer essa transição, será preciso tempo”, disse Gould.

Para Gould, é preciso definir cronogramas concretos para descarbonizar o setor. “Uma dificuldade fundamental na indústria de petróleo e gás é como você muda de seu produto atual para suas ambições de mudança climática? E como você paga por eles? E qual é o cronograma real que é necessário para que isso funcione “, afirmou.

Investir em renováveis é uma necessidade e um bom negócio para as empresas

O rigor em torno das licenças de operação no setor de óleo e gás aumentou na avaliação de Shira Paulson, gerente de exploração da BP para a Região Norte do Brasil. “Existe uma pressão por parte dos formuladores de políticas e investidores”, comentou. Ela observa que a demanda global por energia continuará crescendo e que haverá maior diversidade na matriz energética com o aumento do uso de fontes renováveis. Esse cenário faz com que o Brasil esteja entre os líderes nesse novo modelo.

Apesar dos desafios que se colocam no longo prazo, especialistas acreditam que a transição energética representa uma oportunidade para a empresas alcançarem maior credibilidade junto à sociedade e acelerarem projetos a partir de fontes limpas. Marcus Dias, vice-presidente executivo da RepTrak Company destacou a importância dos investimentos em renováveis para a melhoria da reputação das empresas. “Dizer e fazer o que é certo é um bom negócio para o setor”, afirmou. O engajamento entre o público jovem também foi apontado como uma alavanca para tornar o setor mais atraente às gerações futuras.

Todo o conteúdo da programação da Rio Oil & Gas 2020 estará disponível integralmente para os participantes no canal On Demand da plataforma.