O que foi debatido na Rio Oil & Gas 2020 sobre gás natural

IBP
ATUALIZADO EM dezembro 2020

Pelas previsões da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), no recém-lançado Plano Decenal de Energia (PDE – 2030), a oferta líquida de gás natural em 2030 chegará a 140 milhões de metros cúbicos/dia, contra uma previsão de oferta em 2021 de 73 milhões de metros cúbicos/dia. Ou seja, em 10 anos, a oferta deve dobrar.

O que foi debatido na Rio Oil & Gas 2020 sobre gás natural
A transformação no mercado de gás natural – provocada pela transição energética e pelos desinvestimentos da Petrobras, além dos aperfeiçoamentos regulatórios em andamento – foi um dos destaques na programação da Rio Oil & Gas 2020. Especialistas e executivos discutiram o papel do gás natural na transição energética, a necessidade de modernização na atual legislação, de modo a atrair investimentos e tornar o mercado mais competitivo, e a integração com o setor elétrico.

“Temos a oportunidade de diversificar, integrar e promover o crescimento da oferta com o Novo Mercado de Gás”, disse o secretário-executivo-adjunto do Ministério de Minas e Energia, Bruno Eustáquio de Carvalho. Um dos marcos da abertura do setor foi a decisão do Cade (Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência) sobre a necessidade de venda de ativos de gás natural da Petrobras.

Michael Stoppard, estrategista-chefe global de gás da IHS Markit, destacou que é “importante garantir uma boa relação risco-retorno para atrair investimentos para o setor”, que tem entre os seus desafios a expansão da infraestrutura e a necessidade de altos investimentos para a produção offshore. Um fator importante para o crescimento do mercado é a que muitas empresas estão assumindo compromissos para zerar suas emissões, o que deve afetar a demanda por gás nos próximos anos.

Nova Lei do Gás

Um marco para o desenvolvimento do Novo Mercado de Gás Natural no Brasil será a aprovação da nova Lei do Gás, em tramitação no Congresso. Para Carlos Tadeu Fraga, CEO do Porto do Açu, o país precisa incentivar a demanda por gás e tem o desafio de vencer o “gargalo da infraestrutura” de dutos, terminais e plantas de processamento.

A boa notícia é que os investimentos já começam a aparecer, sobretudo em terminais privados de GNL (Gás Natural Liquefeito). Pelas contas da CNI (Confederação Nacional da Indústria), se o preço do gás cair em 50%, os investimentos no setor podem chegar a US$ 31 bilhões até 2030. “Muitos setores hoje não investem no país por causa do custo do gás. Essa realidade pode mudar com a abertura do mercado”, disse Juliana Borges de Lima Falcão, especialista em Política e Indústria da CNI.

Claudia Brun, conselheira de Novas Cadeias de Negócios da Equinor no Brasil, afirmou que, sozinha, a nova Lei do Gás não consegue trazer maior competição ao mercado. “É necessária a elaboração de um cronograma claro, com antecedência, além de condições de acesso e contratação conhecidas previamente, de modo a reduzir incertezas”, diz ela.

Integração com setor elétrico

Lazslo Varro, economista-chefe da IEA (Agência Internacional de Energia), ressaltou a importância da expansão do mercado de gás natural e sua integração com o setor elétrico. “O gás é uma reserva para as demais fontes de energia, uma bateria para o setor”, afirmou Varro.

Luiz Carlos Ciocchi, presidente do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), destacou o papel da flexibilidade nesta integração. “Na medida que identifico que em determinada região há uma característica que requer uma flexibilidade ou potência, preciso de energia em determinado horário ou de contingência. Esse serviço com sinalização econômica bem determinado pode atrair o investidor a colocar seu capital naquele serviço. Atualmente, o que ocorre é buscar essa flexibilidade em serviços que não são remunerados pelo consumidor.”

Para Guilherme Perdigão, gerente-geral de Novas Energias da Shell, é fundamental que haja um alinhamento na precificação das novas energias. “Já existem modelos de negócios flexíveis em outros mercados do mundo, mas é preciso um sinal econômico, pois nem sempre a geração eólica será mais barata que a geração a gás, por exemplo. Por isso, é fundamental a separação de lastro e energia.”

Todo o conteúdo da programação da Rio Oil & Gas 2020 estará disponível integralmente para os participantes no canal On Demand da plataforma.