Indústria brasileira de lubrificantes é referência em economia circular

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O modelo de produção linear, que consiste, basicamente, em retirar recursos naturais, processar produtos em massa e descartar como lixo com apenas um único uso, é insustentável. Foi o que afirmou a diretora de Downstream do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Valéria Lima. A alternativa a esse modelo é a economia circular, que utiliza os resíduos como matéria-prima e busca gerenciar melhor os recursos. “Ela envolve toda uma transformação nessa cadeia, que a gente está acostumada, de tirar, fabricar, dispensar. Ela nos obriga a pensar toda a forma como a gente produz e o que a gente faz com nossos subprodutos”, reforçou.

O tema foi discutido durante o ESG Energy Forum, promovido pelo IBP em junho, e apresentou o modelo adotado pela indústria de lubrificantes como um caso de sucesso de economia circular. “A indústria de lubrificantes já pratica a logística reversa, ou seja, o recolhimento e a destinação final dos óleos usados ou contaminados, há décadas, isso significa que a gente começou a fazer isso bem antes da Lei de Resíduos Sólidos, de 2010”, disse Valéria.

O reaproveitamento do óleo usado é feito a partir do rerrefino, processo em que é retirado todo aditivo que se degradou na utilização do lubrificante e aproveitada a fração mineral. Esse produto volta então para os produtores como óleo básico – da mesma forma que sai das refinarias -, onde recebe os aditivos e finalmente retorna para o mercado como lubrificante acabado.

Segundo Thiago Trecenti, CEO da Lwart, uma das empresas responsável pelo rerrefino, é possível reaproveitar 73,5% de base mineral em cada litro de óleo usado com o processo de hidrotratamento, que, atualmente, é uma das tecnologias mais modernas em uso. “O aditivo que degrada é separado e destinado para produção de mantas asfálticas e produtos para impermeabilização na construção civil; uma fração é combustível, que usamos para fazer o aquecimento da própria unidade; e o restante é água, que é tratada e aproveitada para refrigeração e lavagem de caminhões. A cadeia do lubrificante se enquadra perfeitamente na economia circular porque é um ciclo fechado”, explicou.

A Lwart coleta, todos os anos, 240 milhões de litros de óleo usado, em aproximadamente 80 mil fontes geradoras – postos de combustíveis, oficinas, concessionárias, fazendas e indústrias. “O trabalho é de formiguinha. Os caminhões menores coletam nessas fontes geradoras e levam para as nossas bases de armazenamento temporário. Depois disso, caminhões maiores levam o volume consolidado para uma planta de rerrefino, no interior de São Paulo, onde fazemos o tratamento do óleo”, detalhou Trecenti.

As embalagens dos lubrificantes também são reaproveitadas. O trabalho de coleta é gerenciado pelo Instituto Jogue Limpo, organização sem fins lucrativos financiada pela indústria. Em 2022, a instituição coletou mais de 5 mil toneladas de embalagens plásticas, o que representa 100 milhões de unidades. “A coleta tem um papel social muito importante na geração de emprego e renda.  As empresas especializadas nessa modalidade de coleta são responsáveis por visitar os mais de 100 mil pontos que comercializam e utilizam as embalagens de lubrificantes pelo Brasil e trazer para os recicladores para que isso retroalimente a indústria de embalagens”, afirmou Alexandre Bassaneze, CEO da Iconic, empresa formada, em 2007, pela junção do negócio de lubrificantes da Ipiranga e da Chevron.

Bassaneze destacou o esforço constante das empresas do setor de óleo e gás para gerar cada vez menos resíduos e o papel fundamental da tecnologia nesse processo. “Quando eu tirei a minha carteira de motorista em 1995, trocava o óleo do carro a cada 3 mil quilômetros. Hoje, com o desenvolvimento tecnológico e a qualidade das matérias-primas que vêm sendo desenvolvidas, a mesma troca de óleo de um veículo é feita a cada 15 mil quilômetros. O intervalo de troca aumentou em cinco vezes. Se a tecnologia não tivesse evoluído e a indústria de lubrificantes não tivesse acompanhado, a quantidade de embalagens gerada hoje seria 5 vezes maior, assim como a quantidade de óleo usado”.

O CEO da Infineum, empresa de aditivos para lubrificantes e combustíveis, Peter Gilbert, disse que a evolução tecnológica contribui de forma relevante para a circularidade dos recursos naturais e a redução das emissões de carbono. “Isso se faz com o desenvolvimento conjunto entre os fabricantes de equipamentos e lubrificantes para permitir que esses equipamentos funcionem de forma muito mais eficiente. A gente está falando aqui de redução do consumo de combustível. Antigamente, os veículos leves operavam utilizando de cinco a oito quilômetros por litro, hoje a gente está falando de 15 a 30 quilômetros por litro”.

A indústria brasileira de lubrificantes é referência para diversos países, inclusive mais desenvolvidos, por ter uma economia circular funcionando plenamente há muitos anos. “É uma cadeia superlonga, que vai desde a extração e refino do petróleo à coleta de óleo usado e embalagens plásticas nos lugares mais distantes do Brasil. Temos consciência de que fizemos bastante servindo de referência para outros setores, mas ainda há muito para ser feito”, concluiu Bassaneze, CEO da Iconic.