Ipiranga e Vibra detalham os desafios de distribuir produtos pelas hidrovias

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A Região Norte do país depende das hidrovias para seu abastecimento e as empresas distribuidoras enfrentam desafios todos os dias para levar combustíveis e derivados para a população. O Rio Amazonas é um dos maiores do mundo e, segundo as empresas, não existe modelo de operações que se compare às realizadas naquela região. O Além da Superfície conversou com dois gestores de operações de duas diferentes empresas – a Ipiranga e a Vibra – para entender como se dá essa logística e conhecer um pouco mais dessas atividades.

De acordo com Maximilian Modesto, especialista de Investimento em Infraestrutura da Ipiranga, o transporte hidroviário é o mais seguro e mais barato para se transportar em escala na Região Amazônica. Ele contou que a companhia vem aprimorando a parte lacustre-fluvial mais intensamente nos últimos anos, justamente devido às peculiaridades das operações naquela área. Segundo Modesto, todas as empresas que operam no Norte do país enfrentaram muitos desafios para elevar o padrão, mas que hoje todas já conseguem atuar de forma altamente estruturada e consistente.

“O Amazonas não é só o maior rio do mundo, ele é extremamente largo. Por exemplo, o Rio Madeira é mais largo que o Rio Nilo, na África, e esse é apenas um dos tributários do Rio Amazonas. Então, o que a gente vê na Região Amazônica é uma escala de rio que a gente não vê em lugar nenhum do mundo e a nossa navegação nasceu da observação do regional, que foi buscando as oportunidades de melhoria. A alavancagem desse conceito veio de 30 anos para cá, então tudo isso que se vê hoje numa operação é bem recente”.

Roberto Neias, Superintendente da Base de Porto Velho (Bavel) da Vibra, concorda que atuar na Região Norte é um grande desafio. A unidade é responsável por abastecer o Pará, o Amazonas e o Acre, de forma direta e indireta, e depende exclusivamente das hidrovias para receber os produtos que vão ser distribuídos.

 O maior desafio que a gente enfrenta é o Rio Madeira. Porque nós temos 6 meses de seca e 6 meses de chuva. Na seca, não se consegue navegar de forma plena no rio, o que afeta a chegada de produtos na base. Uma balsa que deveria chegar com 5 milhões de litros, chega com 1,5 milhão de litro de produto, dada a necessidade de aliviar o peso da embarcação por conta da redução no nível hidrológico do rio. Então, a gente precisa de um planejamento audacioso para suprir a necessidade do mercado. A gente tem que trabalhar 365 dias do ano atento a ele”, explicou.

Modesto também ressaltou os desafios enfrentados pelas empresas para navegar no Rio Madeira. Ele afirmou que um trânsito de carga que se faz em 9 dias normalmente, leva 20 dias no período da seca. Isso porque, segundo ele, algumas passagens, como entre Manicoré, no Amazonas, e Porto Velho, em Rondônia, por exemplo, ficam extremamente perigosas e só podem ser feitas durante o dia com quebra de comboio, ou seja, passando uma embarcação por vez.

“O Rio Madeira é um belo exemplo dos desafios que encontramos naquela região. Na época das chuvas, quando ele enche, temos a correnteza. Ela desce com muita velocidade, então temos que dimensionar bem os equipamentos que vão estar no comboio nesse período. E como ele é um rio em formação, ele vai desbarrancando as suas laterais, junto com as margens vem árvores, troncos, que podem bater no empurrador, quebrar hélice, quebrar leme, e causar um acidente provocado por fatores, adversidades que você não tem controle”.

Segurança nas hidrovias

A segurança, como em todas as operações da indústria de óleo e gás, é um valor fundamental e isso não é diferente nas atividades de distribuição. No caso do transporte hidroviário na Região Amazônica, o gestor da Ipiranga disse que todas as balsas que atuam naquela área têm casco duplo, ou seja, uma proteção reforçada para enfrentar as condições adversas dos rios e proteger o meio ambiente de qualquer incidente.

“Do ponto de vista ambiental, há uma proteção bastante robusta para evitar qualquer incidente. Também temos uma linha de atuação de inspeções anuais que visa verificar a gestão dos nossos transportadores contratados. Isso dá também uma garantia que a gente está trabalhando com parceiros de elevado padrão e que as cargas que estão sob a responsabilidade desses parceiros estejam sendo devidamente bem geridas do ponto de vista de segurança”, complementou Modesto.

Na Vibra, a segurança também é primordial. Segundo Roberto Neias, o fato das companhias trabalharem nos rios torna ainda mais importante o trabalho de segurança. Ele contou que a empresa realiza diversos treinamentos, possui uma série de normas e padrões que são revisados e massificados continuamente. Neias disse também envolver todos os colaboradores e dar autonomia para eles intervirem ao observar um ato inseguro e considera que esse tipo de atitude reforça a cultura de segurança na unidade.

“Aqui a segurança é inegociável em todo nosso processo. Nós trabalhamos com um produto altamente inflamável, qualquer descuido, ainda mais na Bavel, onde a gente lida com um rio. A questão da segurança é falada diariamente, massificada junto com toda a equipe justamente para que isso fique no sangue. Independente de quem seja, todos aqui são treinados para intervir. O sucesso, para mim, é você conscientizar e, a partir disso, a pessoa ter a percepção de todo risco que é envolvido na operação e ter autonomia para agir quando tiver um ato inseguro.”

Novos investimentos

Entre os desafios apontados por Maximilian Modesto, da Ipiranga, nas operações na Região Amazônica está a comunicação. Ele informou que as empresas enfrentavam muitos ruídos nas informações que circulavam entre as embarcações e as bases porque elas eram transmitidas via sistema de dados digitados, o que podia atrasar o tempo de resposta. Segundo ele, a companhia implantou uma nova tecnologia para a transmissão online de dados, permitindo que se faça, por exemplo, uma videoconferência entre a embarcação e a base, e assim permitir uma resposta mais rápida a algum fato que possa acontecer com o comboio que esteja transportando produtos pelo rio.

“A gente faz um esforço muito grande para ter informações mais coesas, mais consistentes, porque o nosso negócio é controle puro: controle e segurança. Então, quando você tem algum escape dessas informações, você fica a mercê de previsões não muito consistentes. A nossa maior preocupação é ter uma operação com melhor e maior monitoramento possível. Agora, com essa nova tecnologia, nós temos a oportunidade de um entendimento em tempo real de qualquer situação, como, por exemplo, a dificuldade de passar em um trecho por causa das condições do rio, e dar uma resposta mais rápida. Hoje, nós temos o caminho dessa efetividade que estamos buscando”, concluiu.