A transição energética e o futuro da indústria de óleo e gás

Transição Energética
Publicado em 11 de agosto de 2021 | Atualizado em 1 de setembro de 2024

Além da Superfície preparou um conteúdo especial para falar sobre a transição energética e o futuro da indústria de óleo e gás. Este é o primeiro capítulo de uma série que pretende abordar também desafios nas áreas de tecnologia, novas fontes de energia e aperfeiçoamentos em processos produtivos.

 Transição Energética

A transição energética, entendida como uma mudança estrutural e de longo prazo nos sistemas de energia, tem sido motivada por diferentes fatores ao longo da história. A transição atual é singular, pois é impulsionada pela urgente necessidade de mitigar os impactos das mudanças climáticas causadas pela ação humana.

Neste contexto, os países enfrentam o desafio de desenvolver estratégias que permitam o crescimento econômico enquanto reduzem suas emissões de gases de efeito estufa (GEE). O Brasil, como signatário do Acordo de Paris, comprometeu-se, por meio de sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), a reduzir as emissões de poluentes. Para alcançar esses objetivos, o país tem investido na expansão de sua capacidade de geração de energia renovável.

O setor de Óleo e Gás (O&G) tem reconhecido a importância de reduzir suas emissões de GEEs. Para enfrentar esse desafio, as empresas estão investindo em fontes de energia renováveis e de baixo carbono, bem como em tecnologias avançadas para a redução de emissões. Entre essas tecnologias, destacam-se a ampliação do uso de biocombustíveis e o desenvolvimento de soluções para captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS).

A necessidade de conduzir uma transição energética justa

O conceito de transição energética justa se refere à necessidade de reduzir os impactos econômicos e sociais negativos da mudança para uma matriz energética de baixo carbono. No setor de energia, isso envolve a implementação de medidas que reduzam os efeitos adversos para países e indústrias dependentes de combustíveis fósseis, como o óleo e gás. Para que essa transição seja bem-sucedida, é necessário um planejamento cuidadoso, políticas públicas eficazes, diversificação econômica e investimentos em capacitação da força de trabalho. A cooperação internacional também é essencial para garantir que os países em desenvolvimento não sejam desproporcionalmente afetados.

Como o Brasil está posicionado no cenário mundial?

Atualmente, 49,1% da matriz energética brasileira é composta por fontes renováveis (EPE, 2024), colocando o país em uma posição de destaque no cenário global. Essa proporção é significativamente superior à média global, que é de apenas 14,5% (Energy Institute, 2024).

O cenário Net Zero projetado pela Agência Internacional de Energia (IEA) prevê que as energias renováveis devem representar 29% da matriz energética mundial até 2030, evidenciando o desafio global para aumentar a participação das fontes renováveis. O Brasil, com sua matriz já fortemente renovável, está bem posicionado para liderar esse movimento, não apenas em termos de produção, mas também como um exemplo de políticas públicas e investimentos em tecnologias sustentáveis.

Quais são as estratégias da indústria de O&G para se adaptar à transição energética?

Entre as principais abordagens estão a diversificação do portfólio energético e o investimento em fontes renováveis. Empresas líderes do setor estão ampliando suas operações em áreas como energia eólica, solar e biocombustíveis. Além disso, o setor está se empenhando na inovação e no desenvolvimento de soluções sustentáveis, demonstrando seu compromisso com as metas de descarbonização.

Que investimentos estão sendo feitos?

Em 2023, as empresas de petróleo e gás destinaram $28 bilhões para energia de baixo carbono, registrando um aumento de 30% em relação aos níveis de 2022. Embora significativo, esse crescimento foi inferior ao salto de 65% observado de 2021 para 2022, refletindo, em parte, o ambiente inflacionário e os desafios na cadeia de suprimentos enfrentados por alguns projetos de energia renovável após a crise energética. Além disso, houve uma recalibração das estratégias empresariais. Os investimentos em projetos de energia solar fotovoltaica e eólica representaram mais de 40% do total de gastos com renováveis pela indústria de petróleo e gás em 2023, destacando a crescente importância dessas fontes de energia no portfólio das empresas (IEA, 2024).

No que diz respeito à redução da intensidade de emissões e à compensação das emissões remanescentes, um exemplo notável é o investimento em captura, utilização e armazenamento de CO2 (CCUS). De acordo com a IEA (2024), essa tecnologia é destacada como um dos principais atrativos para investimentos no setor de óleo e gás.

Adicionalmente, a OGCI (Iniciativa Climática para Óleo e Gás), formada por 12 das maiores companhias globais do setor, está promovendo uma série de iniciativas para acelerar a adaptação da indústria às mudanças climáticas. Um dos principais esforços é a criação de hubs de captura e armazenamento de carbono (CCUS). Esses hubs têm o objetivo de reduzir custos, demonstrar a eficácia de políticas facilitadoras e atrair investimentos significativos para o CCUS. A proposta é estabelecer centros em regiões com diversas indústrias, onde o CO₂ será capturado das instalações fabris e a infraestrutura de transporte e armazenamento será compartilhada, gerando economias de escala e aumentando a eficiência do processo.

Desafios e Oportunidades da Transição Energética no Setor de Downstream

A transição energética no setor de downstream enfrenta desafios distintos em comparação com outras áreas, especialmente devido às diferenças tecnológicas e operacionais nos diversos modais de transporte. A eletrificação é eficaz na redução de emissões para veículos leves e modais urbanos, mas enfrenta desafios em termos de infraestrutura e custo. Ainda não é totalmente adequada para transporte de longa distância, como aéreo, marítimo e rodoviário, que exigem alternativas que atendam às suas necessidades específicas de potência e eficiência.

Os biocombustíveis surgem como uma alternativa promissora nesse contexto, oferecendo uma solução de baixo carbono que se adapta melhor às necessidades dos setores difíceis de descarbonizar. Em 2022, a demanda global por biocombustíveis alcançou um recorde de 4,3 EJ, superando os níveis pré-pandemia. No entanto, para atingir as metas de Net Zero até 2050, será necessário aumentar significativamente a produção de biocombustíveis, que deve atingir mais de 10 EJ até 2030. Este crescimento exige uma expansão média de cerca de 11% ao ano e um aumento na produção de biocombustíveis a partir de resíduos não alimentares, que deverá representar mais de 40% da demanda total até 2030, em contraste com os 9% registrados em 2021.

O Brasil, como o segundo maior produtor de biocombustíveis do mundo, está estrategicamente posicionado para capitalizar essa tendência. A nação pode aproveitar sua extensa rede de distribuição e experiência no setor para liderar a expansão global dos biocombustíveis, contribuindo de forma significativa para a descarbonização do setor de transporte em nível mundial.

Qual a importância do desenvolvimento tecnológico no enfrentamento das mudanças climáticas e na transição energética?

A Agência Internacional de Energia (IEA) projeta que mais de 50% das tecnologias necessárias para alcançar emissões líquidas zero até 2050 ainda estão em desenvolvimento.

A indústria brasileira de O&G tem demonstrado seu compromisso com Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I), alocando cerca de R$ 30,2 bilhões desde 1998. O número de projetos focados em eficiência energética e fontes de baixo carbono cresceu de 25 em 2018 para 91 em 2023, com investimentos subindo de R$ 46 milhões para R$ 782 milhões. Em 2023, os investimentos foram distribuídos entre biocombustíveis (35%), energia eólica (28%), hidrogênio (13%), CCUS (9%), sistemas híbridos (9%), energia solar (6%) e energia dos oceanos (1%) (ANP, 2024).