Historicamente, o gás natural foi considerado mais como uma dificuldade para a produção do petróleo. Isso ocorre porque quando uma reserva de petróleo é descoberta, o gás natural associado pode estar dissolvido no petróleo ou formando uma espécie de capa no reservatório. Essa situação exigia uma série de procedimentos de segurança que encareciam e complicavam as atividades de prospecção. Além disso, a monetização de reservas de gás natural requer investimentos em infraestrutura que assegurem o escoamento da produção até o mercado consumidor. Uma vez que não há alternativas ao escoamento da produção do gás natural, como é o caso do petróleo que pode ser exportado diretamente da plataforma através de navios, é crucial um ambiente de negócios favorável para garantir os investimentos necessários em toda a cadeia.
Com o tempo, porém, novos investimentos no setor tornaram o gás natural uma opção atrativa e complementar ao petróleo. Menos agressiva ao meio ambiente, é hoje em dia a fonte de energia fóssil que mais cresce no mundo.
Resultante da decomposição de matéria orgânica durante milhões de anos, o gás natural é encontrado no subsolo em rochas porosas protegidas por uma camada impermeável. Durante as primeiras etapas de decomposição, a matéria é transformada em petróleo e durante as etapas finais, em gás natural, que pode ser encontrado associado ao petróleo ou em campos isolados.
No Brasil, o gás é normalmente encontrado associado ao petróleo, e a maior parte das reservas está localizada no mar, e não em terra, principalmente nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo.
As reservas do pré-sal representam hoje o maior potencial para a produção de gás natural no Brasil. Se em 2012 sua contribuição para a produção total de petróleo e gás natural no país era inferior a 10%, hoje ele já responde por mais da metade da produção nacional.
Porém, de acordo com dados do Plano Nacional de Energia 2030, a participação das termelétricas movidas a gás natural deve aumentar a curto e médio prazos. Uma vez que sua operação é complementar às hidrelétricas e elas são ligadas em momentos de aumento do consumo de energia ou de redução da disponibilidade de água nas represas, elas são responsáveis por mitigar o risco de apagão em casos de seca ou estiagem.
O estudo também aponta como ponto positivo do suprimento de gás natural para geração termelétrica no Brasil a oferta total de gás disponível em volume suficiente para atendimento do mercado brasileiro. Tal oferta inclui tanto as reservas domésticas de gás quanto a importação desse recurso. Além disso, é possível destacar a disponibilidade de infraestrutura física para escoamento da oferta (produção e importação) até os mercados consumidores atuais e o potencial da geração térmica de promover a expansão do mercado ao impulsionar o uso do gás natural em outras aplicações, como nos setores industrial, de comércio e de serviços de transporte.
Portanto, o crescimento do mercado de gás natural, além dos impactos ambientais reduzidos, representa um potencial significativo no desenvolvimento regional. Os investimentos no setor promovem o aumento na arrecadação de impostos, a geração de empregos e a movimentação do comércio e dos serviços locais.
Quando extraído do reservatório, o gás natural pode ser utilizado em diversos setores com fins energéticos e não-energéticos: como fonte energética para a indústria e para a geração de energia elétrica, ou ainda como matéria-prima nas indústrias petroquímica (plásticos, tintas, fibras sintéticas e borracha) e de fertilizantes, como combustível veicular, no comércio, serviços e residências.
Uma tecnologia recente conhecida como gas to liquid, GTL, permite ainda que o gás natural seja transformado em derivados de petróleo, como gasolina, diesel e outros, porém com processos e resíduos mais limpos.
A capacidade de dispersão em casos de vazamento e a baixa emissão de poluentes em toda cadeia produtiva são outros pontos positivos do gás natural quando nos referimos à segurança e saúde do usuário final.
Já como forma de combustível para automóveis, o gás natural veicular (GNV) desponta como combustível com custo competitivo e de queima limpa com capacidade de reduzir as emissões de enxofre e óxidos de nitrogênio. Dessa forma, o gás natural pode ser considerado uma solução para a mitigação da poluição do ar nas grandes cidades.
Por outro lado, a Agência Internacional de Energia estima que a demanda por gás natural para a produção de energia elétrica no mundo se manterá em expansão pelos próximos anos, devido à substituição de outros combustíveis fósseis mais poluentes, como o carvão e os derivados de petróleo.
Adicionalmente, similar com a sua relação com a geração hídrica, o gás natural é uma alternativa como fonte complementar em relação à produção de energia solar e eólica em casos de condições adversas de insolação e vento. Outra participação do gás natural na produção da energia solar é no processo de fabricação das placas solares que são feitas de resina de copolímeros, cuja matéria prima é o petróleo. E se formos para o estado da arte da tecnologia de placas solares, as chamadas placas fotovoltaicas orgânicas, que são flexíveis, dobráveis e produzidas em rolos de forma cada vez mais barata, o próprio material que converte a luz e o calor do sol em eletricidade é um derivado do petróleo, chamado de polímero fotossensível.