Os desafios da descarbonização nos setores “hard-to-abate”

Transição Energética
Publicado em 17 de setembro de 2024

Em um cenário global cada vez mais pressionado pela necessidade de reduzir emissões de carbono, alguns setores da economia enfrentam desafios maiores que outros para descarbonizar suas operações. Conhecidos como hard-to-abate, esses segmentos – exemplificados pelas indústrias de óleo e gás, cimento, aço, vidro, mineração, siderurgia, etc – dependem fortemente de combustíveis fósseis ou processos industriais que são tecnicamente complexos e caros para descarbonizar. Isso ocorre, em grande parte, devido à falta de alternativas econômicas viáveis em escala e à ausência de tecnologias maduras para substituir as fontes de energia tradicionais.

Apesar desses desafios, os setores “hard-to-abate” são fundamentais para o cumprimento das metas do Acordo de Paris, pois respondem por uma parcela significativa das emissões globais de gases de efeito estufa.

As emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) são classificadas, segundo o Greenhouse Gas Control (GHG Protocol), em escopos 1, 2 e 3:

  • Emissões de escopo 1: emissões diretas das companhias provenientes das suas próprias operações e que estão sob o seu controle por pertencerem aos seus processos produtivos;
  • Emissões de escopo 2: emissões indiretas associadas ao consumo de eletricidade e energia da empresa;
  • Emissões de escopo 3: mais difícil de mapear, são emissões indiretas não contempladas no escopo 2 e que ocorrem na cadeia de valor da empresa. Essa categoria inclui fontes que não são de propriedade ou controle direto da organização, como as associadas à extração de matérias-primas, à cadeia de suprimentos, ao transporte de insumos e produtos, e ao uso ou descarte de bens pelos consumidores finais.

A descarbonização do setor de óleo e gás

No contexto global, os combustíveis fósseis continuam a representar uma parcela significativa da matriz energética, resultando em emissões de gases de efeito estufa (GEE). Frente a este desafio, as empresas do setor de óleo e gás têm adotado diversas medidas para mitigar suas emissões, com foco específico nas emissões dos escopos 1, 2 e 3, em conformidade com as diretrizes internacionais de contabilização e reporte.

No que diz respeito às emissões do escopo 1, as companhias têm se empenhado em projetos com menor intensidade de carbono, adotando práticas que visam reduzir as emissões desde a exploração até o desenvolvimento dos campos de produção. O Brasil destaca-se por sua eficiência na produção de petróleo, com uma intensidade média de emissão de CO2 de aproximadamente 17 kg por barril de petróleo equivalente (boe), inferior à média global de 20 kgCO2/boe. Campos como Tupi e Búzios, responsáveis por mais de 40% da produção nacional, apresentam uma intensidade ainda menor, cerca de 10 kgCO2/boe. Este desempenho posiciona o Brasil como líder mundial em termos de sustentabilidade na produção de petróleo.

Ademais, o setor brasileiro de óleo e gás natural tem se beneficiado amplamente de sua expertise tecnológica, utilizando técnicas avançadas, como a Recuperação Avançada de Petróleo (Enhanced Oil Recovery – EOR), e liderando projetos de Captura, Armazenamento e Utilização de Carbono (Carbon Capture, Utilization, and Storage – CCUS) em operações offshore. Tais iniciativas contribuem de forma substancial para a mitigação das emissões de GEE, consolidando o Brasil como um ator relevante na redução das emissões globais de carbono. Em especial, o desenvolvimento de tecnologias de CCUS destaca-se como uma solução promissora para mitigar as emissões de setores hard-to-abate, criando, simultaneamente, novas oportunidades produtivas para o país.

No tocante às emissões de escopo 2, que se referem às emissões indiretas associadas à geração de eletricidade e energia adquiridas e consumidas pelas empresas, o Brasil tem adotado medidas que incluem a utilização de energia proveniente de fontes renováveis e de baixa emissão de carbono. A crescente incorporação de fontes energéticas como a solar e a eólica, bem como o uso de biomassa e biocombustíveis, exemplifica a diversificação das fontes de energia pelo setor. Destaca-se que a matriz energética brasileira, com uma participação de 49,1% de fontes renováveis na energia consumida, supera significativamente a média global de 14,5% e a média dos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 16,5%.

O Brasil possui uma longa tradição no uso de biocombustíveis, o que permite que mais de 20% da demanda energética do setor de transporte seja suprida por etanol e biodiesel. As empresas brasileiras estão focadas no desenvolvimento de inovações para aumentar a eficiência energética dos combustíveis e explorar novas rotas tecnológicas para mitigar as emissões de escopo 3.

Em síntese, a combinação de esforços voltados para a redução das emissões diretas e indiretas, juntamente com a adoção de tecnologias avançadas e fontes de energia renováveis, posiciona o Brasil em uma trajetória sólida em direção à descarbonização no setor de óleo e gás. A posição estratégica do país, com sua matriz energética renovável e inovações tecnológicas, representa uma contribuição significativa para os objetivos climáticos globais e promove uma maior sustentabilidade ambiental.