O Brasil, como signatário do Acordo de Paris, comprometeu-se a reduzir as emissões de poluentes. Para alcançar esses objetivos, o país tem investido na expansão de sua capacidade de geração de energia renovável.
O setor de Óleo e Gás (O&G) tem reconhecido a importância de reduzir suas emissões de GEEs. Para enfrentar esse desafio, as empresas estão investindo em fontes de energia renováveis e de baixo carbono, bem como em tecnologias avançadas para a redução de emissões. Entre essas tecnologias, destacam-se a ampliação do uso de biocombustíveis e o desenvolvimento de soluções para captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS).
A indústria de óleo e gás (O&G) desempenha ainda um papel crucial na inovação tecnológica voltada para a transição energética de baixo carbono. Segundo a Agência Internacional de Energia, 35% da redução de emissões de GEE associadas ao setor energia que são necessárias até 2050, advém de tecnologias que ainda se encontram em estágios iniciais de desenvolvimento e não atingiram escala comercial.
Para que essas soluções sejam viáveis e disponíveis na escala necessária, segundo a entidade, é essencial que haja investimentos contínuos em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I). Desde 1998, a indústria brasileira de O&G tem investido significativamente nessa área, alocando R$ 30,2 bilhões em recursos por meio da cláusula de PD&I nos contratos de exploração e produção de óleo e gás[1].
Nos últimos anos, esses investimentos têm se concentrado cada vez mais em projetos de eficiência energética e fontes de energia de baixo carbono. O número de projetos relacionados a essas áreas quadruplicou em cinco anos. Passou de 25 em 2018 para 91 em 2023, enquanto os investimentos tiveram um crescimento substancial, passando de R$ 46 milhões para R$ 782 milhões no mesmo período. Em 2023, os recursos foram majoritariamente direcionados para biocombustíveis (35%), seguidos por energia eólica (28%), hidrogênio (13%), captura e armazenamento de carbono (CCUS) (9%), sistemas híbridos (9%), energia solar (6%) e energia dos oceanos (1%)[2].
As tecnologias de Captura, Uso e Armazenamento de Carbono (em inglês, CCUS) são implementadas em sistemas produtivos para capturar dióxido de carbono (CO₂) e armazená-lo de forma segura em reservatórios geológicos, tanto offshore quanto onshore, ou em tanques para sua reutilização na fabricação de outros produtos. Essas tecnologias têm a capacidade de capturar até 90% do CO₂ emitido por diversas fontes, como a queima de combustíveis fósseis para geração de eletricidade e processos industriais em setores de difícil abatimento, como produção de cimento, aço e fertilizantes.
As tecnologias de CCUS são destacadas como uma das ferramentas essenciais entre as opções tecnológicas disponíveis para alcançar as metas de redução de emissões até 2050. A implementação de sistemas de CCUS representa uma significativa oportunidade para a indústria brasileira de óleo e gás, dada a vasta experiência na separação, transporte e injeção de CO2 (utilizado em larga escala nos reservatórios do pré-sal para recuperação avançada de óleo) e o conhecimento profundo da geologia nacional. Aproveitar essas oportunidades pode auxiliar na redução de gases de efeito estufa (GEE) dentro das operações das empresas (plataformas, refinarias, termelétricas e unidades de tratamento de gás natural), posicionando-as como potenciais grandes usuárias dessa tecnologia. Além disso, existe a possibilidade de utilizar a infraestrutura existente de gasodutos, tanto nas instalações de superfície quanto nos reservatórios depletados, o que também representa uma chance para redução de custos e, consequentemente, para a viabilidade da indústria de CCUS no Brasil.
A energia eólica já é bastante conhecida por ser uma fonte de energia renovável obtida a partir da força dos ventos. Os aerogeradores são estruturas que contam com pás semelhantes às de um moinho que são movimentadas pelo vento girando um rotor ligado a um gerador que produz energia elétrica. No caso das eólicas offshore, o princípio é o mesmo, porém com a diferença de que os aerogeradores ficam localizados no mar, onde os ventos tendem a alcançar maior constância e velocidade já que não há a presença de obstáculos como montanhas ou construções.
O potencial de geração eólica offshore no Brasil é estimado em aproximadamente 700 GW, considerando profundidades de até 50 metros e alturas de 100 metros. Esse potencial é comparável à capacidade de 50 usinas hidrelétricas como a de Itaipu. Com uma costa de 7.367 km e uma área marítima de 3,5 milhões de km², o Brasil possui condições excepcionais para se destacar na geração de energia eólica offshore, consolidando sua posição como um líder na transição energética global. O potencial do país tem atraído a atenção de investidores, com cerca de 189 GW em projetos de eólica offshore atualmente em processo de licenciamento ambiental, conforme dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
Os biocombustíveis são uma categoria de combustíveis obtidos a partir de matérias-primas orgânicas, geralmente plantas ou produtos agrícolas. Esses combustíveis podem ser utilizados para alimentar veículos, máquinas e usinas de energia, servindo como substitutos parciais ou totais para combustíveis de origem fóssil (MME, 2023).
A eletrificação de matrizes energéticas e processos industriais tem sido eficaz na redução de emissões em veículos leves e modais urbanos, como metrôs e trens. No entanto, a substituição de combustíveis fósseis em modais de longa distância, como aéreo, marítimo e rodoviário, é mais complexa devido às exigências de potência e eficiência. Neste contexto, os biocombustíveis têm se destacado como uma alternativa viável, oferecendo uma solução de baixo carbono para setores difíceis de descarbonizar. A demanda por biocombustíveis atingiu um recorde de 4,3 EJ em 2022, superando os níveis pré-pandemia. Contudo, para alcançar as metas de Net Zero até 2050, é necessário aumentar significativamente a produção de biocombustíveis e continuar a aprimorar a tecnologia.
Nesse contexto, o Brasil, como o segundo maior produtor de biocombustíveis do mundo, possui um potencial de mercado significativo. Além de sua produção consolidada e know-how estabelecido, o país dispõe de uma infraestrutura de distribuição robusta que pode ser amplamente aproveitada. Essa infraestrutura inclui uma rede eficiente de transporte e armazenamento, que não só facilita a distribuição interna, mas também pode ser adaptada para atender à demanda crescente tanto no mercado nacional quanto internacional.
[1] ANP, 2024
[2] ANP, 2024