Na COP30, setor de O&G quer levar suas contribuições para a descarbonização

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Publicado em 6 de novembro de 2025

Por Caio Mello, do Canal Meio. 

Com a COP30 prestes a começar em Belém, os olhos do mundo se voltam para a Amazônia e pela primeira vez a conferência global do clima será realizada no coração da floresta. O Brasil ocupa uma posição única na discussão energética, pois, ao mesmo tempo em que lidera as energias renováveis comparado a outros países, ainda sustenta boa parte de sua economia na exploração de petróleo e gás. E é nesse cruzamento de caminhos que a conversa sobre transição energética precisa ser colocada com a devida urgência e profundidade.

Isso porque a transição não pode ser uma ruptura abrupta, mas uma reconfiguração paulatina que lide com os combustíveis fósseis e garanta a segurança energética, enquanto se prepara para ter uma economia e uma matriz energética voltada à sustentabilidade. No caso do Brasil, a receita gerada pelo pré-sal é o que financia parte da infraestrutura necessária para o avanço das fontes renováveis, por exemplo.

Na abertura do evento OTC Brasil, o presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), Roberto Ardenghy, argumentou que sem o esforço exploratório que levou à descoberta do pré-sal, o país hoje estaria importando energia e vulnerável às instabilidades externas. “Imaginem em que situação estaríamos hoje se não tivéssemos feito esse esforço exploratório e descoberto essa grande reserva?”, questionou. Ele afirmou que a produção de petróleo é essencial para a segurança energética e destacou que essa atividade deve seguir “com toda segurança e cautela e com as compensações devidas, como tem de ser”.

Nesse sentido, o Brasil leva vantagem por já possuir uma matriz elétrica majoritariamente renovável, com forte presença de energia hidrelétrica, solar e eólica. Mesmo assim, ainda há a dependência por combustíveis fósseis. Em 2022, petróleo e gás responderam por quase metade da oferta total de energia primária. E segundo o IBP, mesmo com a queda esperada na demanda global, o petróleo seguirá relevante por décadas, principalmente em setores difíceis de substituir, como aviação, indústria pesada e petroquímica.

Por isso, o setor está tentando mudar a narrativa e expor os fatos. Em vez de ser visto como obstáculo, o segmento pode ser agente da transição. O país tem uma das maiores produções de petróleo com menor intensidade de carbono do mundo, e campos como Tupi e Búzios estão entre os mais descarbonizados do planeta por barril extraído.

Enquanto isso, as empresas têm ampliado investimentos em tecnologias como captura e armazenamento de carbono, eletrificação de plataformas e redução do metano. Algumas petroleiras estão entrando em projetos de eólicas offshore, setor que pode se beneficiar da expertise acumulada em décadas de operação no mar, aproveitando a estrutura existente para acelerar a diversificação.

Mas nenhum plano de transição será sustentável sem justiça. A indústria de óleo e gás sustenta 1,6 milhão de empregos, representa 17% do PIB industrial e tem impacto direto no orçamento de estados e municípios produtores. Em regiões de baixo IDH, a presença de operadoras independentes transformou economias locais. Ignorar essa realidade seria negligenciar os efeitos sociais de uma mudança acelerada demais.

A própria Região Norte do Brasil exemplifica esse aspecto. A discussão da exploração de petróleo na Margem Equatorial também está levando em consideração os possíveis avanços econômicos para o Amapá. E com Belém no centro do debate global, o Brasil tem a chance de mostrar que sabe combinar ambição climática com pragmatismo energético e econômico. O ritmo, a trajetória e os instrumentos usados para a transição energética é que vão definir se ela será sustentável e, sobretudo, justa, para enfim o Brasil vivenciar uma evolução energética.